terça-feira, 30 de novembro de 2010

Na vila cruzeiro

       Eram quatro amigas inseparáveis, trabalharam juntas numa mesma cozinha de escola pública, desenlatando e esquentando merenda escolar. Conheciam profundamente cada uma , as dores e histórias da outra.
       Gina era tomada de calores de menina já não tão moça que a levavam a um quase coma, tinha a certeza de que não era tarada, mas o conforto do ventilador na velocidade 3, mirado  nas partes intimas aos domingos ,enquanto assistia o "Sirvio Santos" e Faustão lhe faziam mais bem do que o próprio sexo com o marido.
       Lene deo gostava de fumar e tomar cerveja, embora falasse muito palavrão era pura de sentimentos e alma, foi obrigada assim a adquirir um comportamento mais masculino, para se defender das coisas aí de fora. Mas mantinha um espírito doce e afável como de uma menininha de jardim de infância, se incomodava que todos achavam que ela pudesse ser "sapatão", foi levada a um presídio por Gina que tem primo preso e lá conheceu cenoura com quem namora até hoje. Pode assim mostrar sua grandeza de alma feminina adotou a filha de cenoura aqui fora.
       Talita já viveu seu áureos tempos, quando pode se desligar do serviço público e gozar as regalias a partir de um romance com um advogado/empresário, que ajudou ela a educar seus dois filhos do casamento anterior e certa vez até viajaram juntos para Orlando, mas como a vida tem  que pregar peças nas pessoas, teve esse marido preso em função de um assunto não bem explicado com o governo de estado, e os filhos formados e casados com gente da pequena burguesia, passam a evitá-la, voltando para a merenda escolar só, amarga e com tanta ódio de tudo que seria capaz de matar alguém com aquela faca de picar tomate.
       Cristina, talvez a mais emblemática de todas elas, misteriosa sempre morou só em uma casa de herança  num bairro bom,tem visões e epifanias, todos os domingos vai a missa e quando não vai parece que algo lhe rompe as entranhas, tornando-lhe vitima dos mais terríveis súbitos e presságios babando e falando sozinha por incontáveis horas, coisa que assusta bastante as pessoas que lhe estão vendo pela primeira vez.
       Essas quatro senhoras de tão amigas, pensaram intocáveis se envolveram num esquema de desvio de recursos da merenda escolar de São Paulo orientadas por barões que conheceram nestas visitas nos presídios do oeste Paulista, há menos de dois anos foram obrigada a desaparecer.
       Pegaram a via Dultra como alternativa e dirigiram-se ao Rio de Janeiro, na Avenida Brasil ainda olhava para trás como se temessem alguma viatura as seguindo de São Paulo, foi ali que viram pela primeira vez a vila Cruzeiro, seu novo endereço.
       Na fuga ,um amigo de presídio deu-lhes o endereço para que elas recomeçassem a vida na vila cruzeiro, quando ali chegaram um aperto no coração misturado a sensação de começar de novo, tomou conta delas, todas aquelas vielas, o calor, a falação dos cariocas, os aromas as cores tudo as recebia acolhedora e calorosamente.
       Não sei se por coincidência,acaso ou fatalidade chegaram no dia daquele pagofunk, onde estava Adriano, Wagner Love, Bruno e até aquela namorada que hoje está desaparecida. Gina montou uma barraca de pastel, Lene deo faz e vende quentinha, Talita é apontadora do jogo do bicho e Cristina faz contabilidade da venda de butijão e de TV a cabo clandestina nas comunidades. Ninguém poderia imaginar que se adaptariam tão bem na cidade maravilhosa.
       Tudo corria muito bem .Nas últimas semanas Cristina não pode ir a missa atarantada de tanto trabalho, algo estava por acontecer as quatro amigas se olharam com olhar de espanto e assim começou a invasão do exército na vila cruzeiro. Acaso ou coincidência, haviam fugido de São Paulo sido bem acolhidas e agora novamente teriam que fugir  e recomeçar a vida que só é rica em argrúrias.
Pedrão Guimarães

Um comentário:

  1. Pedrão, você não existe!! Deverias mandar algum roteiro para o SBT ou outro canal.
    Sua história fez-me rir , muito.
    Muito bacana!!
    Abraços.
    MOabe Manzili.

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