terça-feira, 28 de junho de 2011

NA TELA DO ASTRO

                                                                             Na sonolência de preguiças errantes, me virava de um lado pra outro da cama quase vazia, quando ouvi tão bela canção que radiava da televisão.
Tão difícil radiações legais principalmente da televisão, embora eu a mantenha ligada o tempo todo.
Era uma música do João Bosco, um dos maiores monstros sagrados da nossa música, ainda na ativa, descendente de arábe, com aquele nariz quase falo, herdeiro do maneirismo dissimuladamente mineiro e totalmente devotado ao catimbó do malacuchê mais profundo.
Com seus atonados rodopios sonoros, me senti elevado. Trata-se de uma novela que a maior emissora do pais, esta regravando para estreiar em breve, e o fato é que a trama acontece em torno de um vidente e seus clientes , se é que podemos chamar as pessoas que procuram esses magos de "cliente", não quero ofender ninguém.
O que me inquieta é:
Como uma historia de um vidente no Rio, cheio de favelas e povo negro,  centralize-se neste senhor de alvos olhos claros e nenhum tipo de relação com a macumba (sim por que quando o espirito abaixa em preta é pomba-gira; quando abaixa em branca é espanhola), seria para agradar os setores evangélicos que não existiam ainda quando foi feita a primeira versão; mas talvez já estivessem ali sendo pré anunciados ?
Não me faço de ingénuo nem tampouco auto comiserado, já ouvi produtores de TV dizerem que não trabalham para instituições de caridade, ONGs ou coisa parecida; televisão mostra o que as pessoas querem ver e gostariam de ser, pura lei de mercado.
Talvez seja por isso que nunca sejamos aquilo que o consumo nos faz sonhar. De qualquer forma não vou aqui me colocar como um praguejador/ malidiscente da TV e suas celebridades( embora seja isso que eles mereçam), venho felicitar e agradecer aos barões desta emissora de TV a possibilidade de uma música tão linda do João Bosco poder ser tocada e assim conhecida pela "mulecada". Evohé, Axé Saravá. João Bosco.
Pedrão Guimarães

segunda-feira, 20 de junho de 2011

BISCATEAÇÃO

Todos devem se lembrar da praçinha, praçinha da matriz onde nossos pais e avós se conheceram e se  reconheceram ,na época do antigo “footing” onde as moças andavam no sentido horário e os rapazes no sentido anti-horário, para que homens e mulheres pudessem se ver e apreciarem-se, tudo caminhando para futuros enlaces, namoros, noivados - casamentos.
Como se prevê o protocolo dos bons modos e relacionamentos; mas nem tudo são flores, agora me refiro a certa cidade com menos de 100 mil habitantes, distante com praças espaçosas , arborizadas recheadas de jogos de dominó e xadrez para idosos aproveitadores de seu tempo diurno vespertino, aparentemente tranqüilos e desprovidos de maiores má intenções; se não levarmos em conta o que podem dizer e pensar esses velhos.
Um cenário de harmonia e acomodação de tudo que é belo; se não fosse por um único detalhe ,tais praçinhas ao cair da noite abrigavam uma horda de adolescentes, ninguém nunca soube explicar com quem começou ou porque?
 Principalmente a praça da matriz passou a abrigar esse grupo de jovens em tenra idade que se entregavam aos seus desejos mais obscuros e recônditos, oscilavam numa faixa etária de 12 a 17 anos, não iriam para rodovia e postos de beira de estrada, isso para os moldes daquele lugar era algo muito vulgar e desmedido.
Já a praça da matriz não. Era uma unanimidade, um lugar sacro-santo. Que mal haveria em jovens ficarem na praça de frente a igreja maior, até certa hora da noite?
E sem que ninguém notasse ou talvez até por uma tolerância perversa, os adultos faziam que não percebiam, ou permitiam este súbito deslize de suas crianças, pois até onde me consta ninguém cobrava nada(pelo menos mais do que já recebiam).
Assim esse grupinho de jovens pode apreciar as delícias do sexo, sem ficarem mau vistos ou mau afamados no lugar, para todos os efeitos mantinham vossa castidade. Entregavam-se à homens mais velhos, vendedores na sua grande maioria que sempre estavam ,hospedados de passagem e que nunca iriam revelar os segredos daquela patotinha faminta.  
As outras e iniciais incursões sexuais ao que tudo indicava ocorriam dentro de casa mesmo ,coisa que as famílias não revelavam, dessa forma estavam protegidos  e em segredo para poderem continuar a trilhar esse trajeto de pecadinhos secretos, tão necessários ao ser humano, principalmente quando se vive sob o controle de um lugar castrador e proibitivo.
Vendedores de remédios farmaceuticos, fornecedores de tecidos de magazines, negociadores de madeira derrubada e transportada ilegalmente para madeireiras,fornecedores de bebidas, representantes de oficinas de lingérie, gerentes de frigoríficos e toda sorte de machos sem vergonha, a serviço do capital, faziam os negócios circularem e o dinheiro se justificar naquela localidade, e por sua vez alimentavam desejos e fomes infanto-juvenis, quantas: Gretas, Marcinhas, Paulinhos, Vitinhos, Carolzinhas, Estelinhas, Ruizinhos,Caetanos, Lauras , Jorginhos e alguns que nem mais lembro.
Na sua generosidade adulta, esses novos caixeiros-viajantes, iniciavam e satisfizeram jovens de todos os segmentos: Biscatinhas, viadinhos, sapinhas e recém casad@s.
Ninguém foi denunciado por pedofilia, era um escambo fortuito, o forasteiro não depreciava a imagem dos joven local, e os jovens locais não taradificavam a imagem do forasteiro. Essa dinâmica durou muito tempo, e talvez até hoje esteja em prática.
Mas o que venho dizer neste momento é que: Todo mundo de certa forma sabia, e essa omissão nunca entenderei!
 Diferentemente da ruína do cinema, onde muitos evitavam passar até na calçada ,e que se alguém dissesse ter te visto de lá saindo, isso provavelmente acabaria em pancadaria.
A praça da matriz  não; era envolvida de uma bruma de misteriosa aceitação, como se uma nave pousasse, para fazer experimentos com todos aqueles adolescentes que por ali desavisada ou propositalmente andavam depois das oito da noite.
Entre a matriz e o hotel, alamedas em flor, troncos altos, rígidos , exuberantes, arbustos tão intrínsecos como pêlos pubianos.
Que lá foi capaz de criar duas sensações de seus antigos freqüentadores lembranças suspirantes e nostálgicas de uma época de ouro; ou de abjeções que a qualquer custo devam ser esquecidas.
PEDRÃO GUIMARÃES

segunda-feira, 13 de junho de 2011

ENAMORADOS

                                   
 
     TODO DIA 12 DO MÊS DE JUNHO, É SEMPRE ESSE TORMENTO COM RELAÇÃO SUA POPULARIDADE E MEDIÇÃO DE SUA CAPACIDADE, DE ESTAR INSERIDO  OU NÃONO MERCADO SEXUAL.
SIM, PORQUE SE VOCÊ NAMORA, A QUESTÃO É SE CONSEGUE OU NÃO SER UM BOM, AMANTE? 
E SE NÃO NAMORA ,POR QUE SE ENCONTRA SÓ ? ALGO DE ERRADO DEVE ACONTECER CONTIGO: TEM MAU HÁLITO? RONCA MUITO?PEIDA MUITO QUANDO DORME?NÃO OPEROU A FEMÓSE? NÃO SABE SE QUER COMER OU DAR? TEM PROBLEMA NEUROLÓGICO? OU TEM VOCAÇÃO PARA MÁRTIR?
      NESTE ÚLTIMO SÁBADO CONFESSO QUE TINHA ESQUECIDO A DATA, E DEVIDO A TODO ESSE FRIO FIQUEI EM CASA ATÉ AS SEIS DA TARDE(JURO QUE NÃO ERA DEPRESSÃO).
QUANDO LEMBREI QUE PRECISAVA IR AO AÇOUGUE POIS HAVIA SIDO TOMADO DE UMA VONTADE DESMEDIDA DE COMER UMA BUCHADA, INDO ATÉ O MERCADO QUE FREQUENTO PARA EFETUAR TÃO PRECIOSA AQUISIÇÃO.
      NA FILA DA CARNE, UM AÇOUGUEIRO COM UMA CARA DE MACHO FUNDAMENTALISTAMENTE SAFADO, COM INTENÇÕES DAS PIORES POSSIVEIS PERGUNTÁ-ME: ENTÃO FILHÃO JÁ COMPROU O PRESENTE PARA A NAMORADA? NA HORA SENTI O CHÃO ME ESCAPAR, NÃO ESPERAVA OUVIR TAL PERGUNTA DAQUELA FIGURA COM UMA FACA NA MÃO CORTANDO CARNE, E NUM IMPULSO DE DEFESA VOLUNTÁRIO, SÓ CONSEGUI RESPONDER: TÔ SEM DINHEIRO.
     NO MESMO INSTANTE PERCEBI O QUÃO ABSURDO ERA AQUELA SITUAÇÃO TODA. JUSTAMENTE EU QUE ADORO DEBOCHAR DOS ROMANCES INICIADOS EM FILAS DE AÇOUGUE E PADARIA, DAS PAIXÕES TÓRRIDAS DE CINEASTAS DE VANGUARDA POR  AÇOUGUEIROS SEMI-ANALFABETOS, ME VI DEBOCHADO POR AQUELE SACANA VENDEDOR DE CARNE.
      E DE ONDE VEM ESSA VONTADE LOUCA DE COMER CARNE? OUTRO DIA UMA AMIGA ME CONTOU QUE ESTAVA TÃO "PRECISADA" DE SEXO QUE TOMOU CORAGEM E CIRCULOU O CENTRO DA CIDADE A PROCURA DE UM MICHÊ PARA TRANSAR EM UM HOTELZINHO BARATO E MATAR ASSIM ESSA NECESSIDADE, NÃO DEU NADA CERTO,FICOU COM MEDO DE TUDO E DE TODOS. MAS CONTINUAVA COM UMA FOME ANCESTRAL, ABISSAL ALGO QUASE INSANO. FOI AÍ QUE TEVE A FORÇA INTERIOR PARA MUDAR SEU FÓCO, ENTROU EM UMA CHURRASCARIA E COMEU ATÉ SENTIR-SE MAL, PARA ENTÃO AÍ PODER IR PARA CASA E DESMAIAR COMO UMA GIBÓIA SACIADA, NÃO SACIOU SUA FOME SEXUAL, NÃO TEM UM NAMORADO MAS SE SENTE  FELIZ QUANDO VAI AS REUNIÕES DOS VIGILANTES DO PESO, E QUEM SABE ATÉ LÁ CONSIGA SE CASAR.
          RECEBI VÁRIOS PRESENTES NESTE DIA DOS NAMORADOS: BOLETO DAS CASAS BAHIA, DO ECON, COBRANÇA DO ALUGUEL E FUI COBRADO NA RUA PELA MULHER DO YAKULT.
 
                                     PEDRÃO GUIMARÃES,