terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Palpitações de Matilde

Palpitações de Matilde (Que neste verão você tenha fruta gostosa pra comer, sorvete pra chupar e palmeira pra trepar).
       Sempre cozinhou bem, embora seu forte mesmo fosse juntamente com sua melhor amiga e algoz: Silvia.
        Siricutiar por velórios e leitos de enfermos, sempre dispostas a confortar convalescentes, doentes terminais, inválidos e familiares destes infortunados a melhor suportar e conviver com toda a dor destes momentos trágicos e tão pontuais de nossas vidas que não escapamos e menos ainda os desejamos.
        Duas mulheres negras e professoras quase aposentadas, moradoras do centro da fria e cinza São Paulo, habituadas ao caos urbano, mas sem nunca deixarem morrer em si a vocação para misericórdia, coisa que lhes foi ensinada na sua mais tenra infância. Uma do interior de Minas a outra do interior de Alagoas.
         Houve certa vez um comentário que retalhou suas almas no mais profundo de seus seres. Alguém disse que elas eram dois urubus a procura da carniça alheia; ficaram até algum tempo sem visitar nenhum moribundo ou morto.             Ressentidas de sofreguidão e lamentos, até que na medida em que foram se recuperando de tão aviltante e maledicente comentário foram retomando forças para continuar essa jornada dadivosa de entrega e devoção ao consolo dos outros.
          Silvia lembra algo um pouco mais razoável e equilibrado, no que diz respeito à sanidade; porém Matilde é muita emotividade regada a certo descontrole, com um certo charme de divas do cinema e da música, esta afastada da sala de aula. 
          Houvera sido espancada três vezes em escolas diferentes por alunos e certa vez até por uma dona de escola, assunto que gosta muito de recorrer, embora nunca consiga explicar com clareza o que realmente aconteceu nessas ocasiões e assim sendo vitimiza-se praguejando tudo e todos a sua volta por não conseguirem compreende-la.
         Silvia mais severa e sóbria. É quem tem maior inclinação para morbidez. Assisti religiosamente os noticiários mais sanguinolentos da TV, aquilo de certa forma a faz sentir-se mais feliz menos fragilizada. Possui uma destreza quase paranormal, uma espécie de faro, para descobrir um doente a ser visitado um defunto para ser rezado e chorado.
       Ela Silvia justifica seu apetite mórbido, afirmando que nos dias atuais as pessoas passam por tantos problemas com familiares envolvidos com o crack ou com o crime; que quando morrem não há entre os consanguíneos quem reze ou chore por estes, sendo assim importantíssimo o que elas fazem.
       A relação entre as duas não dou direito de ninguém julgar, muito embora às vezes se odeiem; mesmo assim é amor!
 Insólito, bruto e repleto de cumplicidades, até juraram entregarem- se uma a outra. Caso resolvam recorrer ao safismo no futuro (Sabueirice).
          Matilde prefere cozinhar Silvia gosta é de faxina.
          Silvia supervisiona e aponta as diretrizes da amizade das duas. Matilde aquece o delírio criando novas situações, assuntos e amizades. Se completam a sua maneira se gostam.
             Notei Silvia um tanto quanto só e entristecida, então perguntei o que tinha havido?
             Ela na sua desolação contou-me:
Ando preocupada com Matilde! E hoje em dia tem esse plano do governo de internação involuntária, né?
Você sabe que a família dela tem uma pensão lá na Nove de Julho, mudaram-se todos de volta para o interior de Minas. Aquela história que ela afirmou ter visto o cunhado dando banho no casal de gêmeos de pau duro, quase acabou com o emocional deles.
 Ainda mais depois que a irmã dela passou a ir naquela tal igreja de madrugada pra tomar o banho sagrado.
Acreditava que iria purificar a Silvia , o marido e as crianças, a situação ficou ainda pior entre eles.
A irmã de Matilde pegou uma pneumonia e quase morreu.
O cunhado e ela ficaram um tempão sem se falar!
 Mas agora! Quem cuida da pensão e cobra os inquilinos é ela.
 Graças a Deus ela não mora lá dentro. Por que se morasse já teria enlouquecido.
É tão sério assim (perguntei)?
Nem te conto! De um tempo pra cá, tem chegado à minha casa totalmente descontrolada. Ri, chora, esbraveja contra os homens tudo ao mesmo tempo.
 ...É tudo cafajeste ou viado, tamú perdida não tem um que preste...
 Deve ser por causa dos inquilinos!?!
 Agora que todos voltaram pra minas quem vai receber o aluguel dos homens lá, é ela.
 Que por sua vez trata mal os caras. 
 Eles percebendo que ela é mulher sozinha, saem dos quartos pra acertar o aluguel de cueca e pau duro, um deles chega até a jogar o dinheiro no chão pra ela ter que se ajoelhar na frente dele, e olha que lá só tem negão, nordestino e africano.
 Meu medo é que ela tenha um troço e eu tenha que interná-la. Se isso acontecer; por mais amiga que eu seja eu é que não vou lá cobrar aqueles caras. Só de pensar me dá palpitações.


Pedrão Guimarães 


Rolezinho

Rolezinho



Gozos na greta da grela, são bastante


 gostosos!


Mas a responsabilidade de conviver com os



 rebentos ninguém quer.



A impressão que tenho é que os jovens e



 crianças atuais tiveram sua criação


terceirizada.



Os ricos por babás e escolas caras, e os



 pobres em creches e escolas públicas que 


não

 conseguem oferecer nada mais do que



 aprovação involuntária, o analfabetismo


 funcional. 


Tão providencial para se compor as letras de



 funk (que a sociedade culta odeia tanto

invocando pena morte e diminuição da



 maioridade penal).


Funk aliás, que é o único indicio de 



paternidade que acolhe esses coitados.



Que passaram a crer que uma leve melhoria



 nos seus níveis de consumo os elevariam a



 condição de "classe medismo" quem sabe



 até de cidadãos.


Pobres moços; a se soubessem o que eu



 sei!!!


Foram filhos de gente pobre muito jovem, e



 provavelmente vão repetir esse flagelo, em



 cidades que cada vez mais encasteladas



 proíbem o barulho, os encontros a


 manifestação

da alegria e espontaniedade (tão comuns na



 juventude).


Assustam a burguesia de narinas de cádaver,



 quando mesmo sem serem convidados


 penetram os centros de compra, para



 cantarem e dançarem sua alegria


 perturbadora com


 letras vulgares, ofensivas a moral e aos bons



 costumes e principalmente, mal escritas.



Não são filhos da puta; são órfãos: Bastardos



 de cuidados e valores familiares elevados, de



 educação de qualidade e preventiva,de



 espaços públicos para se divertirem,de


 tolerância,


 de afetividade de quem queira conviver com



 eles
.
São nossos órfãos. Uma turba de meninos- 



piranha e cachorras querendo tão somente


 latir

 sua insólita felicidade.Nossos órfãos.



Pedro Guimarães