terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Pétala branca

     As comemorações de fim ano chegam para todos; até mesmo para aqueles que não vêm sentido nelas, ou que não se apercebem do quão rápido é essa chegada. 
     Realmente o tempo conspira contra, nos elevando à uma corrida envelhecedora e deterioradora; mesmo assim nos alegramos a cada fim de ano com nossas confraternizações e banquetes, talvez entorpecidos por ingestão de tanta comida calórica na época mais quente do ano, mas não é isso que esta jogo aqui.
     Me refiro a Cristina, sim aquela pessoa que já me referi, em momentos anteriores, que por circunstancias escusas, se viu obrigada a fugir para a vila cruzeiro(RJ), mas retrato neste momento um episódio anterior.
      O fim do ano florescia e ela preocupada com sua colação de grau, missa do galo e peru de natal.
     Estava com sessenta e alguns, houvera ganho um concurso de tango em parceria com um certo senhor misterioso, onde não permitiram que a imprensa os fotografasse, terminava pedagogia naquela mesma Universidade que quase houvera linchado aquela mocinha que ousou usar aquela mini saia gostosa, escola que eu uns amigos carinhosamente apelidamos de "UNIBANDIDA".
     Cristina na véspera da colação , foi no salão de uma grande amiga para escurecer os cabelos, precisa aparentar mais sóbria, discreta quase intelectual.
Na cerimonia de formatura, por mais que tudo corresse a seu contento, sentiu um vazio louco, era como se algo tão importante prestes a acontecer, nunca aconteceria por mais distante que ela houvesse chegado.
      Talvez a tristeza conteste da não existência de um amante para usufruir aquele momento e a quase incerteza futura de amores furtivos e alucinantes, tornavam maior esse vazio nas gretas interiores de cristina.
     Dias depois da formatura, assistiu a TV, onde um padre bonitão com cara de algum Itálico-galã de novela das oito cantava lindas canções, aquilo não podia continuar!
      Todo natal e ano novo ela se veste com roupas claras neste ano teve um impulso a mais, talvez tenha ouvido alguém comentar na rua ou sonhado, não se lembrou! Só habitava nela a certeza de colocar uma calcinha branca para ir a missa do galo, com uma pétala de uma rosa branca nos fundos. Como uma reza profana, uma simpatia secreta neste natal era a única certeza que lhe restava,de que algum dos seus vazios seria preenchido e foi realmente o que fez.  
     A missa transcorreu, na sua paróquia o padre nem de longe era bonito como aquele que ela transpirava ao ver na TV, e conforme a missa foi se findando , ela novamente sentiu o desconforto daquele vazio que houvera sentido dias atrás na sua formatura.
     Cristina sabia que não era detentora de grana como certas mulheres da sua idade, da televisão, que sempre se apresentam com maridos jovens e belos e isso talvez tenha sido o pivô daquele seu surto, naquele natal da meia noite ao meio dia, muniu-se de uma faca e resolveu se vingar de todos os perus da face da terra.
      Invadiu todas as ceias natalinas que teve noticia e esfaqueou com voracidade animal todos os perus: Grandes, pequenos, magros, recheados, bem passados, mal passados, saborosos e insossos . Somente após esta peregrinação de extermínio e vingança teve paz e sossego para começar seu novo ano, prometendo a si mesma a partir daquele momento, sempre passar pelo natal e novo ano, com uma pétala de rosa branca nos fundos de uma calcinha da mesma cor.
     Feliz Natal e Ano Novo, para todos.  


                 Pedro Guimarães
                                                                                                                    

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

FOME ANCESTRAL

20 de novembro 

Zumbi dos palmares, morreu para que uma data consenso fosse instituída por intelectuais e negros militantes da causa negra no Brasil.
   Com o intuito de chamar a atenção da população deste pais- nação, no sentido do reparo-indenização deste povão que tanto sangrou nestas terras de irmãs índias, amputados de integridades e dignificações.
Hoje por mais improvável que parecia, tornou-se uma data no calendário brasileiro, festejada por uns  detestada por outros, mais inegavelmente consolidada. Se antes despontava-se como algo político- materialista-esquerdista.
Nos ultimos anos  começa a configurar-se em quase "feriado religioso" É impressionante a capacidade que as coisas tem no Brasil de tomarem conotação mágica, as vezes até religiosa.
Talvez seja pela formação de um povo que em muitos de seus segmentos foi obrigado a esconder ou disfarçar suas crenças para serem melhor aceitos, e esta escamoteação, acabou contraditoriamente formando as bases da religiosidade de todo essa gente.
Sim o 20 de novembro, vem se destacando a cada ano com coincidências cada vez mais loucas e absurdas, como se algum orixá maroto e serelepe fizesse coincidir com esta data, episódios que quando contados podem suscitar a disposição de não acreditarmos no que esta sendo dito.
Há três anos atrás nesta data morria Celso Pitta (segundo a imprensa), terceiro prefeito negro de São Paulo, apadrinhado por poderosos , mafiosos barões da paulicéia, alcançou glória ,poder e amantes loiras mas morreu traído, esquecido, solitário, sem ter nenhuma esposa ou, nenhum de seus antigos comparsas presentes no seu velorio, ninguém quis associar sua sua imagem a do defunto.
Num desses outros 20 de novembro, a novela das oito da rede globo(líder absoluta de audiência), apresentava como protagonista uma personagem negra de sucesso, que havia "roubado" o marido/pai de uma familia branca de sucesso seus principais antagonistas, e por conta disso houvera sido castigada pelos deuses da moral e do bom senso, no seu remorso e culpa  procura a ex-esposa do seu marido, onde ajoelha-se e pede perdão a madame branca, que lhe esbofeteia com inclemência e retidão.
Agora neste ultimo 20 de novembro, foi a vez do presidente negro, que o Monteiro Lobato tentou publicar no doce E.U. da década de 30 sem sucesso, renascido na figura de Barack Obama, mulatão tão bonito como aquele primo que o Caetano Veloso só conviveu na infância.
 Quem imaginaria que o 20 do 11 deste ano seria mais revolucionário ainda. Na continental e oceânica Austrália, que foi presídio e colônia inglesa (com todo o cinza reticente que isso significa) uma terra quente que segundo as más línguas tolera muitos hippies, viados, sapas e japoneses libertinos. "Onde rainha da inglaterra é denominação para bicha louca" .Sim foi lá meus amigos,foi lá!
        A primeira ministra local uma loira genuína( e não tingida como a maioria das brasileiras) nesta data que vos falo, enlouqueceu com o Mulatão, presidente quase primo do Caetano, em aparições publicas não conseguia esconder sua disposição, em toca-lo, trocar sorrisos e dar sempre um beijo a mais do que mandava o protocolo, visivelmente "mexida", afinal de contas até o próprio Darwin(foi ali mexido) finalizou sua teoria da evolução quando conheceu as espécimes animais e vegetais da Austrália.
Terá algum parentesco com os cangurus ou com o demônios da Tasmânia esta jovem senhora primeira ministra autraliana? E o Obama finalizou alguma tese cientifica com relação ao encontro das águas do indico com o pacifico?
 Não podemos esquecer que o Mulato bonitão quase primo do Caetano, passou sua adolescência ,na Indonésia, que é o sitio sagrado, onde o Popoarismo, foi inventado e aprimorado, e que talvez uma lembrança ancestral tenha tomado epifanicamente esses dois estadistas neste breve encontro.
Enfim que muitos outros, 20 de novembros, venham para nos deliciarmos de surpresas,estupefações e deleites. Valeu Zumbi!

                                                       Pedrão Guimarães


   

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Oktuberfest

                             -  Monsieigneur lépreux me contou.


É um grande amigo, nos conhecemos na adolescência, entre todas inquietações, tormentos e rebeldias que essa fase possa nos trazer, mesmo assim e talvez só por isso construímos uma amizade sólida e verdadeira, embora tão diferentes fenotipicamente, cerca de oito anos mais tarde nos encontramos, e por coincidência ou loucura tínhamos a mesma profissão.
Eu ministrava aulas, nas periferias suburbanas da grande São Paulo, ele por sua vez vez não estava disposto a "maiores desgastes", enviou seu currículo para o sul e foi lecionar entre Paraná e Santa Catarina, esperava que o desgaste seria menor, mas certos ofícios só conseguem serem mais doloridos e prazerosos que a egoísta e perversa castidade de certos religiosos.
Continuamos a nos comunicar, aliás até hoje,dessa forma soube deste peculiar drama familiar, ambientado na "Europa brasileira"; depois de um tempo em cidades distantes .Ele ironizava minha escolha, contava as vantagens de se viver no sul, mais citadino, organizado e civilizado em detrimento do eixo Rio-São Paulo caótico, desprogramada e embrutecido. Eu por minha vez ria-me muito, pois via desvantagens e frustrações na comparação das duas regiões,  foi aí, que em uma de nossas conversas ele me contou:
Havia pego aulas em uma escola de descendentes de alemães, em uma cidade na divisa de dois estados do sul, o salário era razoável, as condições de trabalho favoráveis, as instalações confortáveis, só o nível de exigência que beirava o insuportável.
A escola era de um casal, Helmut e Petra, conduziam-na com rigor e disciplina alemã do pré guerra, embora já nascidos no Brasil nutriam uma identificação maior aos modelos de rigor e eficiência germânicos, eram capazes de a qualquer momento inspecionarem a entrada das crianças e dos adolescentes, para verificar-lhes a higiene das unhas e das orelhas por exemplo, barrando os desleixados fazendo-nos voltarem para casa.
Exemplo de respeito e temor locais, apareciam sempre inesperadamente, para vistoriar ou cobrar algo que não estava sendo feito como deveria, tanto para alunos quanto para professores, gozavam de uma autoridade onipresente, como fantasmas ou assombrações, surgiam sempre quando algo estava fora das conformidades sem que ninguém os comunicasse, flutuavam sobre tudo e todas as coisas.
Meu amigo;embora de pensamento progressista e liberto, se deu bem com o casal, talvez pelo fato dele não ser dali, ou por ser filho de militares, sei lá? O que sei é, que Helmut e Petra se afeiçoavam a ele com grande admiração e por que até não dizer, certo carinho.Tudo corria bem para eles e mais ou menos três anos se passaram, foi quando então que o imponderável se fez presente.
Numa dessas manhãs quando chegava para a aula das sete, surpreendeu-se com a presença de um professor auxiliar na sala que seria sua, e este lhe avisou que fosse até a sala da dona(diretora) da escola que essa precisava muito falar-lhe.
Meu amigo então, começou a indagar se teria cometido algum erro, deslize ou desatenção que pudesse por seu emprego em risco, involuntariamente indo para a sala de Petra analisou as unhas e as orelhas; quando percebeu  que estava caindo no ridículo, cessando maiores paranóias, adentrou o recinto de trabalho desta senhora  colocando-se a sua disposição.
Ela por sua vez estava angustiada com algo que precisava ser posto pra fora. Foi aí que começou.
- Professor o senhor sabe que somos alemães, nos alimentamos muito bem, na Alemanha salsichões, strudel, eisbein aqui no sul do Brasil churrascos e massas, pois veja o senhor professor( meu amigo se perguntava aonde aquela senhora queria chegar com essa conversa). Helmut, depois de uma bateria de exames, decidiu que estávamos todos com o colesterol alto demais. Impôs uma dieta a toda família baseada em verduras e chás, as crianças quase enlouqueceram, eu por mais que tentasse não conseguia nem emagrecer, muito menos, me alimentar de acordo com os ditames que ele nos impunha.
Ele por sua vez, emagreceu, ficou mais disposto e lépido, passou a fazer ginástica e a ter um humor que só no nosso inicio de namoro se apresentava. Desconfiei, que algo pudesse estar acontecendo sem meu conhecimento, contratei um detetive particular para seguir seus passos. O homem fez o diabo, caiu de telhado,subornou porteiros, quase foi atropelado, fugiu cachorros mas concluiu seu trabalho(joga um envelope com fotos na mesa).Veja professor!
Ele então começa a ver as fotos, Helmut e uma amante, menina nova, com tom de pele cor de terra, rindo, tomando banho de chuva, chupando sorvete, em banco de praça, nadando no bosque e finalmente a foto (que pra Petra)  representou a maior traição. Helmut, sua jovem amante e toda a família da moça banqueteando-se em um rodizio de carne na estrada para São Paulo.
Foi ai que meu amigo então entendeu por que ela o escolheu para confidenciar seu infortúnio.
Petra olhando nos olhos do professor faz seu profundo e verdadeiro lamento:Pior não foi ter me traído! Pior não foi ter feito eu as crianças quase morrermos de tanto alface e beringela! Pior não é bancar a família dela no rodízio! Pior mesmo professor, foi ter me trocado, por uma caboclinha de pé vermelho e calcanhar rachada(jogando a ultima foto na mesa, onde o pé da moça foi retratado). Eu sei que o senhor mora a quarenta quilómetros daqui, bem perto daquela churrascaria, pelo menos  lá a carne é boa? 
Meses depois conversando com este mesmo amigo, ele então disse que Petra e Helmut se perdoaram e foram para uma segunda lua de mel reconciliadora em Israel para verem o muro das lamentações, pois se tem uma coisa que nunca deixaram. É de serem cristãos.

                                             Pedro Guimarães

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Amante Gringo

Parecia tudo muito tranqüilo e prosaico, mas o assunto que se discutia ali tinha uma profusão e profundidade muito maior do que aparentava aquela modesta conversa-confidência, entre duas mulheres brasileiras, recém chegadas da Europa.
Sentado em uma mesa ao lado cessei qualquer auto-ruído que pudesse me impedir de ouvir estas duas moças senhoras que, conforme se entregavam ao calor do álcool, falavam-se sem maiores receios e pudores.
Para os brasileiros de um modo geral morar na Europa ou nos Estados Unidos se caracteriza como uma espécie de carimbo de diferenciação é como o selo da carne no açougue livre de contaminação e, com procedência segura, a carne limpa, uma espécie de titulo de nobreza (embora bem burguês) dos tempos atuais.
Não importa toda soma de privações e humilhações que a pessoa por ventura possa ter passado; o que importa é que ela rompeu a barreira do subdesenvolvimento, e esteve entre os “protagonistas do planeta”, nós Tupi-nagôs da terrinha ouvimos seus relatos, quando voltam, entusiasmados e ficamos cheios de vontades estrangeiras.
 Sem que em momento algum nenhuma sombra de dúvida nos leve a duvidar ou contestar, daquilo que nos esta sendo relatado.
As horas de diferença, a luminosidade dos dias, a escuridão da noite, o frio, o doce o salgado tudo tão próprio e especifico, por mais que tanto contem é difícil imaginar, e esse estranhamento acaba redimindo muitos dos nossos a uma condição de demência eufórica, onde até compreendemos o que esta sendo descrito, mais teimamos em admitir que isso não seja possível. 
Como se compartilhássemos uma vertigem após,tanto tempo dentro de um grande parque de diversões, passar-se por todos os brinquedos.
E talvez fosse dessa maneira que eu me encontrava ouvindo a conversa daquelas duas bonitas da mesa ao lado, uma de tez clara e lisos cabelos castanhos e a outra de cachos sublimes,olhos claros e pele mulata. Certo entorpecimento me aplacou. 
Queria saber quem foram e o que fizeram nas terras gringas. Haveriam amado mais os homens, eram  amigas ou namoradas? Tudo me instigava a curiosidade,eu não iria chegar nelas e interromper toda aquela cumplicidade não, tinha esse direito.
Mas por mais respeito que reservava, não posso deixar de admitir que também estava tomado por  um sentimento perverso, que me obrigava a buscar a descoberta de algum segredinho, alguma safadezazinha  gostosa, ou de nada teria adiantado todo esforço em silenciar-me para ouvir estranhas; nem mesmo o esforço delas de terem se deslocado várias horas de avião, para serem incógnitas por anos em outro país, onde talvez tenham encontrado sua verdadeira vocação, de loucas, taradas  quem sabe até de assexuadas.
Aquilo tudo já me enfastiava e precisava de respostas objetivas, foi aí que o acaso conspirou a meu favor e ouvi o melhor comentário desde o começo desta jornada:
-No inicio tinha muito nojo, o homem brasileiro não te pede isso nunca.
(Amiga)- Machismo sul americano, pura fachada por que eles também gostam.
-É olhando dessa forma você tá certa. Hoje eu nem ligo.
-Eu nem me lembro (riem).
-Quando é que a gente imagina que sai daqui pra morar no país rico, e que pra manter o namorado quem aprender...
-A chupar o cú deles.
-(As duas)Há há há há há há ...
Fiquei um pouco constrangido e assustado, não por recato ou pudor, mas por perceber o quanto eu que me achava tão experimentado, era tão ingênuo perante algumas situações, e ao mesmo tempo começei a rir muito lembrando de todas as minhas conhecidas e amigas que casaram-se com gringos como se isso fosse a única possibilidade de redenção de suas vidas.

                                                                                         
                                                       Pedrão Guimarães

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O cheiro

                Por que não falar do cheiro daquilo que desagrada e pode ate feder?
                 Quando cheguei na cidade grande percebi a poluição da fumaça dos carros e fabricas, como algo que me roubava o olfato, nos colocando em rota para um talvez futuro câncer, onde não era possível sentir nem nosso próprio cheiro.
                  Mas mesmo assim atrevo-me a falar de cheiros, o cheiro de uma dama da noite, e me refiro a árvore e não as prosti-trava- mulher de programa.
                  O cheiro de merda e urina das calçadas, infectas e invisíveis assim como seus moradores, o impossivel cheiro das chaminés e escapamentos que cingem nossas casas com um pó preto, fuligem ,que nos assusta quando imaginamos tudo aquilo em nossos pulmões.
                   Sendo tomados por um medo de uma morte intranquila e sofrida.
                   O cheiro do amanhecer acompanhado do cantar de pássaros que mesmo de um prédio fétido da cinza São Paulo, pode ser ouvido.
                    Do som não vou falar, pois não  foi isso que me propus.Mas sim do cheiro que pode ser maravilhoso e grandiosmente sublime nessa prosa sensorial.
                     Pra que todos vejam, ouçam e principalmente sintam aquilo tudo que possa aumentar suas vontades.
                     Tão boa é aquela comida que antes de pronta te entorpece de salivas para come-la.
                      O oposto também ocorre, quando de uma pessoa que deseja muito devora-la, e só quando consegue o privilégio de ter com ela, seu cheiro lhe desagrada totalmente, insatisfação e impotência que nem o mais renomado filósofo te instruiu, nos seus anais.
                       Sempre acreditei numa experiência própria, libertaria e suficientemente anárquica para conviver e viver com as mais aberrantes diferenças, e que isso me libertaria de qualquer tipo de grilhão olfativo. Mas sou obrigado admitir, que não alcancei toda essa liberdade.
                       O cheiro do seu  sexo me agrada desde que bem lavadinho.
                       O cheiro das putas da Rua Augusta e muito doce, o cheiro dos michês da Rêgo Freitas reserva surpresas, o cheiro dos artistas plásticos na bienal é impictório, o cheiro dos atores da Pr. Roosevelt se esvazia em tédio,o cheiro das travestis da Epitácio Pessoa mente tanto quanto seus pintos escondidos entre as pernas(neca aquendada), o cheiro dos meninos e meninas da Vila Olímpia e Moema denunciam o cheiro de uma elite, rica, desnecessária,vazia,  demoníaca e (como todo o resto) colonizada.
                         Sobre o cheiro da colonização, nossa, o fedor dos piratas, marinheiros,dontarios de terras e escravos, europeus que tão amorosa e piedosamente nos inventaram. Não foi suficiente para que não fecundassem nossas índias e negras de aromas e cores, que não farejando acabaram por serem presas.Presa fácil! Daquilo que não queríamos ser, ou  se possível não seriamos.
                          O cheiro. Não suporto seu cheiro, cheiro de cece, de chulé, de rabo  sujo, de buceta suada, de pau não lavado, de cabelo ensebado, de resto de comida removido do vão dos dentes, do odor de enxofre de algumas pessoas sombrias, do cheiro de peido das almas sebosas, O mal odor de um tipo de gente que não ama nem respeita.
                           Mas acima de tudo odeio um certo cheiro de uns que se sentem superiores a tantos outros.


                                                        Pedrão Guimarães

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

XiXi darwinista

  1.     Esta proibido fazer xixi em público em banheiro público!

          Parece uma contradição ilógica, ou uma frase mal construída, mas trata-se da mais pura realidade.
          Pelo menos em São Paulo. Dos banheiros públicos, foram tirados os cochos de urina e os urinóis coletivos.
           Em nome de que teria isso acontecido? 
Da globalização?
Da higiene?
Do fim do constrangimento dos que não são bem dotados?
Do fim do hiper-exibicionismo dos que são bem dotados?
Do apelo de alguma instituição religiosa?
Da caça ao demônio?
Da luta contra a pederastia?
Do fim dos atos obscenos em publico (pegação)?
Da moral e dos bons costumes?
Existe moral e bons costumes dentro de um banheiro público masculino?
             Ninguém pode culpar a cidade por tentar!
              Hoje todos estes antros (para alguns santuários), estão divididos em cabines individuais, seguindo a tendencia mundial de individualização cada vez maior de tudo a nossa volta.
               A ideia de civilização passa pelo principio de isolamento  cyber-burguês, usar um banheiro público tornou-se algo tão seguro e prazeroso quanto teclar sua internet no quadradozinho da sua lan-house, o dificil é saber onde se produz mais merda.
              Se bem que esta  medida excludente e proibitiva, acabou criando o seu proprio infortunio , os homens de rua foram os maiores favorecidos com essa compartimentalização dos banheiros, pois os quadradinhos acabam por lhe servirem também de lugar para dormir em sossego, no meio do "fedô", mais em sossego, isso mostra que o ser humano consegue driblar a própria adversidade humana e neste ponto reside o mais curioso desta ridícula farsa.
             Todo mundo se preocupa com o futuro do planeta sem abrir mão de seus confortos individualizados; mas as práticas individualizadas não aumentam  o consumo de água e luz por exemplo?
               De onde vamos tirar mais recursos da natureza do planeta para manter nossos aparelhos ligados e bidês funcionando.
                Faça o que digo mas não faça o que eu faço! Odiava ouvir isso quando criança. E hoje observo que este provérbio é a  grande máxima da terra, o véu da hipocrisia  cobre a decomposição que impulsiona o que chamamos de evolução.Até quando dois pesos e duas medidas.           
                Será que só conseguiremos mudar quando formos tomados de assalto por uma grande asfixia?
               Se não conseguimos nem mais mijar em público em banheiro público, como então criar desenvolvimento sem destruição?
                                                            Pedro Guimarães

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

República dos gabirus

República dos Gabirus

(Para o grande e desparecido amigo Mauro)

       Vivo me perguntando, se não teria sido melhor se não houvesse estudado? O que é o pior tipo de cegueira? Não compreender o que está a nossa volta? Ou enxergar demais? Sofro de visão excessiva. Não sou pedante não! Sou sociólogo! 
         Me vejo todos os instantes do dia convivendo com os mais variados tipos de equívocos dentre pessoas de todas classes sociais e etnias. E isso faz com que eu muitas vezes me apresente com uma postura distante com certos ares de uma arrogância que posso jurar que não tenho, inclusive a própria opção de estudo que fiz mostra o quanto me interesso e me agrado com a idéia de poder pensar formas para modificar a condição de vida das pessoas, tornar o país e o mundo mais justos.
         Mas, quanto mais me debruço sobre leituras e idéias a cerca da mudança mais me angustia as contradições que saltam-me aos olhos e a mente, parece que nunca seremos capazes de elaborar modelos de sociedade que assegurem um melhor viver e isso constitui em mim uma dor incomensurável, mas ao mesmo tempo também me impulsiona a continuar buscando soluções para destruição das injustiças. 
         Regras e métodos estiveram sempre presentes em minha vida desde muito cedo, sim, quando menino ajudava meu pai em um botequim cheio de bebida barata e estivadores que ali encharcavam seu modo de vida simples na cachaça, nenhum dos meus outros irmãos gostava de ficar no bar, tinham vergonha de serem vistos ali pelos seus amigos de famílias abastadas; eu, no entanto não ligava.
          Tinha uma melhor mesada de nosso pai por ajudá-lo, gostava de ir ao cinema e de andar a cavalo no sítio de um tio nosso.Na adolescência fui trabalhar em banco coisa que foi um orgulho para família, ambiente disciplinador de repetições contínuas, mas que na época fazia sentir-me ótimo, até mesmo pelo fato de não ter grandes questionamentos sobre política e nem capital.
          Quando passei no vestibular de sociologia vibrei bem mais que os demais familiares; que perguntavam como eu ganharia dinheiro com esse curso mais tarde, mesmo assim não conseguiram me desmotivar.
           Embora não soubesse direito o que era um sociólogo nem para que ele servia, abraçei essa nova perspectiva de vida e fui fazer meu curso.O curso descortinou um universo fascinante na minha frente. Toda a cultura alternativa, ideologias “exóticas”, seitas orientas, haxixe, experimentações sexuais e música transcendental passaram a fazer parte do cotidiano de um bancário aparentemente comportado e doutrinado, mas que só mais tarde viria a descobrir que represava um vulcão interno.
       Todo o experimentalismo pelo qual eu passava não me assustava, por incrível que pareça eu tão contido e convencional experimentava de tudo como se já houvesse vivido aquelas experiências, não sei se em sonho ou talvez em vidas paralelas? 
         Será que tudo aquilo era uma espécie de sina que se revelava, de forma tão natural que não me fazia em momento algum sentir assustado ou culpado. Essa idéia até hoje me perturba, mas não sem que me encha de encanto, e foi assim que numa cachoeira nas imediações da cidade me vi sem roupa e sem pudor nenhum beijando mulheres e homens na boca, beijo de língua numa ereção nunca antes tão prazerosa e profunda, não houve nenhum tipo de sexo mais comprometedor, mais naquele momento me ficou nítido que minha sexualidade não seria padrão. Como se tivesse morrido para alguma coisa e renascido para outra, muito mais forte que determinaria o que me restasse de vida daquele momento em diante.
            Não acredito em destino odeio a idéia de estar preso a uma determinação divina ou genética que seja, mas sou obrigado a admitir que determinados rompantes e desejos se manifestam com grandeza interior tamanha que ficamos impossibilitados de lutarmos contra eles.
            Naquele fim de tarde voltávamos daquela cachoeira, com um certo constrangimento pelo ponto de intimidade que havíamos atingido, mas por outro lado nos nutria uma sensação patriótica de dever cumprido. Conseguimos romper uma barreira de normas e padrões estabelecidos, por família, igreja e sociedade e, falo pelo menos por mim, quanto aos outros dois rapazes e as duas moças que estavam juntos, não posso e nem tenho o direito de avaliar se aquilo mudou suas vidas, mais arrisco um palpite, que aquele nosso fim de tarde em algum momento deve  enche-los pelo menos de nostalgia até hoje.
       Eu enquanto voltava para minha casa pensava em toda aquela sagração de sexo libertino, e quais pontos mais me excitavam dentro de tudo que ali foi posto em prática, lembrei a frase do Machado de Assis; Morri e não deixei o legado de minha miséria a ninguém.
        Senti ódio de toda formação familiar do mundo por que as pessoas não podem transar todas entre si? Isso sim seria amor irrestrito à humanidade, as crianças seriam de responsabilidade de todo mundo.
        Mas não perdi o senso de realidade continuava a trabalhar num banco e a morar na casa dos meus pais. Teria que me preservar, crescia dentro de mim um sentimento por liberdade de pensamento e sexo, que não poderia ser mostrado a qualquer um nem em qualquer lugar, pois eu sabia que poderia sofrer retaliações.
        Fui então aprendendo conviver com minha sombra como Dorian Gray, como o médico e o monstro, representando um papel no serviço e em casa e, vivendo o meu verdadeiro eu com os amigos da sociologia.
       Amargando a dor de ter que conviver com um mundo dividido por uma família onde as distancias e as diferenças se pontuavam por ganância e herança, e  um eu acovardado, não conseguia mostrar meus verdadeiros princípios.
        Sentia um louco desejo de ser como um padre, pastor ou guru embriagado em suas convicções e assim capaz de berrar aquilo tudo que se encontrava entalado na garganta sem temer o que pudesse ser dito ou pensado a seu respeito.
                    Consegui me esconder até o fim do meu curso, quando fiz uma viagem de carona para Machu Pichu com um casal de amigos abandonei o serviço no banco e tive a coragem de dizer a meus pais que não voltaria mais a morar com eles, pois queria viver livre de suas interferências, coisa que eu estava muito determinado e não mudaria de idéia.
                  Na viagem para o Peru enlouquecemos com as pessoas, lugares e principalmente com as situações, tudo nos elevava a um universo mágico, a paisagem, comida, danças e a música. 
                  Fui me apaixonando pelo casal durante a viagem como dormíamos sempre os três juntos era muito comum acordar no meio da noite com os dois transando na minha frente, tanto que numa certa noite me convidaram a participar de sua intimidade, isso foi dois dias antes de chegarmos em Machu Pichu, talvez a noite fria dos Andes tenha conspirado para essa união, a partir daí passamos a viajar pelas cordilheiras em direção ao Amazonas, sempre nos amando a três, no nosso trajeto fizemos amizades: com lideres indígenas, hippies, norte-americanos, seringueiros, traficantes, tomamos o chá da Aioascar, carona em  um jipe do exército com um militar que ficou impressionado com a gente e, nos apresentou a pescadores que nos levaram até Belém donde após fazermos amizade com um cara da aeronáutica (que ficou afins de transar com a gente) arrumamos uma carona num avião do correio para o Rio de Janeiro.
       O Rio nos oferecia uma grande comodidade, pois estávamos todos os três bem mais próximos de suas cidades em relação a distancia que já havíamos percorrido, e isso nos deu uma certa segurança que acabou nos desunindo sem que a gente percebesse.
            Ela passou a desconfiar que nós estaríamos transando sem sua presença ou que estivéssemos fazendo programa, coisas que até havíamos cogitado, mas que não tivemos coragem de fazer em respeito a esta moça que nos acompanhava, mas ela não teve sensibilidade para perceber o nosso amor e foi se tornando cada vez mais agressiva e inconstante, até que em um determinado momento se encheu; e voltou para Botucatu, selando assim nossa separação eu voltei para Marilia e Saulo ficou em Volta Redonda (Engraçado nunca mais tinha falado disso para ninguém)!
             E até hoje não consigo pronunciar nem meu nome nem o nome dela quando me refiro a essa nossa breve história. 
            A vida tem razões que só podem existir com a finalidade de nos enlouquecer mesmo, pois vejam só. Há duas semanas atrás eu os encontrei em um congresso de sociologia, eu já não os freqüentava há quase dez anos, e não sei o que me fez ir até aquele?
             E lá estávamos os três, eu sentia mais que nunca a necessidade de conversar, que rumo teria tomado a vida deles?
       Em pouco tempo fizemos para que pudéssemos os três juntos conversar, e para minha surpresa contaram-me com o que estavam trabalhando, durante esses quase 15 anos que não nos víamos( imaginei que tanto ela quanto Saulo, tivessem se enveredado para vida acadêmica tornando-se professores universitários, intelectuais de aulas e artigos)
          Mas para minha surpresa tanto Saulo como ela estavam dando consultoria em política e economia para banqueiros e empresários, e isto me fez sentir alegre por saber que estavam ganhando grana, mas por outro lado me decepcionou tanto fazendo com que eu me sentisse  mais traído por isso do que pelo fato dos dois terem casado e constituído família.
           Coisa que havíamos jurado os três que nunca faríamos, e neste momento senti quase um descontrole que me levou a uma veemência que não é sempre que consigo, dizendo:
            "Do que estou vivendo? Tenho um cargo no serviço público e dou aulas de Geografia em um colégio católico, coisas que estão bem distantes do significado de prazer e liberdade que sonhei para minha vida. 
          Sofro por padecer de um tipo de amor marginal, não sinto mais atração física pelas mulheres, os homens me perturbam e me excitam quanto mais velho fico, sobretudo os jovens.
              Confesso que tentei viver monogamicamente por duas vezes, com homens de pele clara intelectualizados, do nosso nível sócio-cultural, relações que acabaram  por causa da minha possessividade eu os sufoquei e eles foram embora, pelo menos era isso que eu imaginava.
           Mas só o tempo mesmo para me fazer enxergar certas coisas, sim por que hoje eu admito que após tanto tempo investigando as classes desfavorecidas, criou-se em mim (ou sempre existiu) um desejo carnal por  este extrato : estivadores, pedreiros, mecânicos, trabalhadores braçais de modo geral, foi isso que não permitiu que meus dois casamentos fossem pra frente. Não! Não é nenhum tipo de tara; É sim um amor incondicional a humanidade, que as religiões tanto falam, mas não conseguem por em prática. 
          A coragem de assumir seu amor àqueles que ninguém quer, mas, que carregam o mundo nas costas, que fazem o planeta girar com seu suor, que engravidam as meninas desprovidas e preteridas fazendo-nas se sentirem desejadas e queridas, os que são pau pra toda obra.
           Negrões, nordestinos, gabirus, dionisios da construção civil, apolos catadores de papelão, gabriéis garotos de programa, santos segurança privada, imaculados vendedores de churrasquinho, caridosos porteiros noturnos, generosos atores pornôs maridos de putas e travestis, deuses do meu kama sutra. Os únicos que deveriam ser verdadeiramente amados, as pessoas pela qual dedico a minha sociologia. 
           Seria um sonho poder dar consultoria sexual para todos essas pessoas e ainda ganhar algum com isso, eu acredito que alguém um dia consiga, e este sociologo terá se elevado à condição assim de uma espécie de cristo dos tempos atuais, ungido de corpo e alma"
           Eu consegui sair da infernal rotina de um banco, e me tornei sociólogo, e perambulando nas minhas noites, faminto, busco estes tipos humanos , já fui roubado, quase morto, mas a coragem consegui obter, não escondo mais o meu desejo me fortaleço e me rejuvenesço seguindo em direção ao próprio fim.
          Quem dera se fosse possível ter o poder e a lascívia dos vampiros da televisão.Só assim teria a imortalidade e força necessária de um herói para fazer a revolução das massas contra dominação secular das elites torpes, ainda mais hoje após a queda do muro de Berlim onde todo o mundo se rendeu à prostituição da ética da grana.
           O sonho da divisão da riqueza ruiu, se antes da queda do muro as profissões mais nobres eram de Filósofo, Historiador e Sociólogo.
          Hoje, elas são: Enfermeiro de pronto socorro, Depiladora de buceta e carpideira.


                                                                       Pedro Guimarães

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Troca

       Sim era uma das escolas mais ricas e tradicionais da paulicéia, foram pra lá crianças em meados dos anos 80, um lugar que se destacava por receber não só filhos de gente rica; mas também por buscar uma prática de modelos filosóficos de educação, vanguardistas alinhados ao que havia de mais sofisticada na Europa da época.
       Filhos da burguesia esclarecida, gente de pensamento de esquerda e de vocações artísticas. Lá se encontraram os dois, ela filha de intelectuais comunistas que haviam fugido da sangrenta ditadura do Paraguai, seu país de origem. Ele neto de judeus Poloneses, fugitivos dos horrores nazistas da segunda grande guerra.
      Frequentavam a mesma sala e por mais, que esta fosse pouco numerosa, só se viam mas ainda não haviam se enxergado, tanto um quanto o outro eram extremamente aplicados e caprichosos, nos estudos. Fruto da expectativa das famílias que apostavam no potencial daquelas crianças cobrando delas, que todo o esforço seria no futuro convertido na formação de doutos, académicos ou técnicos de primeira grandeza.
       Essas duas crianças respondiam a este comando de forma exemplar e com uma eficiência espartana, por volta dos treze anos a divindade da casualidade resolveu intervir sobre aquilo que a contrariava tanto, fazendo com que esses dois tivessem a necessidade de ser falar pela primeira vez.
       Numa dessas famigeradas provas de cálculos, que aliás não era problema algum para nenhum dos dois, ela vasculha seu inabalável material escolar e descobre que faltava-lhe um item inprescíndivel, foi aí num impulso impensado que falou ao ouvido deste colega que por acaso estava ao lado: 
- Me empresta uma borracha!?!
Ele- Claro. Deixa eu achar. Aqui!
       Os olhos se cruzaram e algo como um lampidozinho de semvergonhice se acendeu,ao término da prova tiveram um recreio diferente conversaram sobre suas causas e famílias, se comoveram um com a história do outro. 
        Ela se chamava Shanana, em homenagem a uma antiga divindade guarani, seus pais ateus-materialistas-dialéticos nunca lhe dariam um nome cristão, pois eles como Marx concordam que a religião é ópio do povo.  
         Ele se Chamava Wladimir em homenagem a um dos avós morto em um campo de concentração, sua família por sua vez houvera se decepcionado tanto com as traições e adesões de parentes e amigos na época da guerra, que abandonaram o culto religioso.
          Uma parceria forte se instaurava ali, sentiam-se as vezes estrangeiros no Brasil, e em outros momentos totalmente integrados isso os identificava muito, juntos puderam se libertar um pouco de toda referência e apego estrangeiros que os norteava, conhecerão a cachaça, a MPB, o Samba-rock e o mais importante para ambos.
           Ele apresenta a  sua "torá" a ela. E ela o seu "Charco Paraguaio" a ele.
 Por circunstancia do mundo dos adultos mudam de escola de endereço e perdem o contato, mas nunca esqueceram aquela troca tão importante em suas vidas, aliás as sequelas não podem ser só cicatrizes resultadas de traumas negativos.
            O Tempo passou como foi determinado, Shanana é redatora numa grande editora e Wladimir trabalha numa grande emissora de televisão na coordenação de tecnologia, são as vezes tomados por uma melancolia motivada por uma saudade de algo que não lembram ou que talvez tenham esquecido.
            Semana passada se encontraram num candomblé, que um músico pernambucano, completamente louco, amigo incomum e oculto dos dois ,os levara para como ele próprio havia dito: Pra dá uma levantada no astral de vocês.
            Lá no terreiro a profusão de tambores, cantigas, fumaça e comida atordoaram Shanana que não percebeu Wladimir chegando sorrateiramente e falando no seu ouvido:Me empresta uma borracha...
                                                            Pedrão Guimarães





terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mil flores

É muito triste perder um ente querido.
Sempre independe da nossa vontade de vida eterna.
Mas a morte vem e ceifa-nos pessoas próximas e queridas.
Foi assim com a matriarca daquela família  de conhecidos.
Ela que sempre foi implacável em seus comentários ferinos e afiados.
Viveu o suficiente para destilar todas as suas verdades.
Não se deixava submeter por nada.
Firme em pensamentos e argumentos, por vezes confusos mas nunca incompletos.
 Eu e D. Flor já não nos víamos há quase 15 anos,tinha notícias através de uma de suas filhas, grande amiga.
Ela havia me dito o quanto esta velha senhora estava envelhecida e debilitada.
Porém irredutível na certeza de não ter sido "biscate".
Conforto sublime de quem acompanhou os deslizes de tantas.
Desfrutou de perfumes, tabacos e elixires, mas não se deixou desfrutável
Se bateu em homem foi por necessidade e defesa de sua honra.
¨Também ajudou amigas a parir trazendo vida a luz dada.
Foi mulher e quase não aprendeu a mentir.
Nos últimos dezoito anos, munida de café, cigarros e água.
Passava horas na sombra do túmulo do falecido marido, rezando confidências.
Era mulher de um homem só, mesmo tendo clareza que isso é negar todo o resto do mundo.
Exigiu as filhas ser enterrada ao lado marido com uma bela camisola rosa.
No seu leito de morte teve o desejo de vestuário realizado, mas não escapou do inesperado.
No cemitério o couveiro descobre a troca de placas, o marido estava três covas a esquerda, daquela tumba que por dezoito anos ela fizera suas preces-confissões.
Mas no seu instante final conseguiu ser encerrada junto ao marido, que fora seu único homem, pois como ela própria sempre fez questão de enfatizar a vida toda, foi mulher de um homem só.


                                                                  Pedro Guimarães

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Juradas de vida

         





Duas pessoas certas de suas limitações  e convicçoes, saem aquela noite mais cedo da escola onde trabalham no centro. Uma dirige e outra leciona, naquela instituição de ensino com todos os seus entraves.
           Estão bastante ansiosas e felizes, vão participar do júri de um concurso de pau, num puteiro masculino ali perto da escola mesmo, conversam afoitamente, sorriem com cumplicidade e principalmente comungam satisfação, nada poderia dar errado naquela noite. Será?
            Na entrada do estacionamento, o elemento surpresa e casual, um rapaz que abre o portão diz conhece-las de uma vizinhança anterior e do tanto que sempre quis se aproximar, prontamente segurando a genitalia sobre as calcas, fazendo as duas professoras engolirem seco de susto e estupefação. Para completar o assédio, ainda declara: Sou da Paraíba, bem dotado e fogueteiro, os outros dois colegas que estão dormindo lá nos fundos um é da Bahia e o outro do Pernambuco ao ouvir tal descrição as duas professoras sentem tremores internos, e percebem que se não tirarem logo o carro dali poderão perder o foco de atenção no concurso, aquele tão grandioso evento, preferiram ir embora sem aceitar o convite de conhecer o quartinho de fundos onde estavam outros dois  rapazes dormindo. Quando entraram no carro foram surpreendidas por uma pergunta do rapaz da Paraíba: A lei permite que gente seja tão mal alojado assim?
               Talvez ali estivesse a oportunidade para aquelas duas criaturas, demonstrarem que além dos ímpetos carnais, também pudessem ser motivadas por sentimentos de benevolência e nobreza, e aquilo as tocou de certa forma.
                 No concurso de pau, se diferenciaram estavam alegres, mordazes e com um certo ar comtemplativo. Parecia que uma flor brotara no subterrâneo de suas almas, na volta pra casa cada uma recebeu seu brinde um michê(bónus) para usufruir, foram felizes com seus parceiros, viveram e gritaram obscenidades até amanhecer o dia, no apartamento de uma delas.
                  Por volta do meio dia os quatro tomavam café da manhã , embora acabassem de de compartilhar gozos instigantemente profundos, já haviam perdido o interesse pelos dois varões que as acompanhavam. Um dos michês quando percebeu que elas já estavam farta da companhia deles, fez questão de desmerece-las, afinal para um puto não há coisa pior que perceber-se não desejado.
                 Escarneando as duas; contratados como premiação já haviam cumprido sua função iriam embora, foi então que o mais falante deles disse: "A gente que trabalha com pau ganha mais dinheiro que vocês nesses servicinhos de funcionário publico".Foi a despedida carregada de vingança e ressentimento.                    
                    Novamente elas estavam a sós para pensar como ajudariam os meninos do estacionamento, e que tipo de escambo poderia ser estabelecido ali, pois toda caridade pressupõe algo em troca ou em contra partida.
                  Uma amizadezinha "cachorra" começa a se estabelecer entre elas e os caras do estacionamento, toda noite no final do turno, buscam o carro ali, mas também trocam, gracejos, deboches, libidinagens e principalmente promessas de deleites futuros, elas as professoras, fazem vistorias constantes no quarto dos rapazes, o argumento é que condições subumanas e insalobras ocorrem ali. Esta é a principal razão para as blitz dessas educadoras, que podem por sua vez também  apreciar a visão dos moços de cuecas, dormindo erectos, sem que isso se configure em pura e simples taradice delas.  Estão escrevendo um relatório para o conselho dos direitos humanos, ou para o ministério público, não decidiram ainda. O que se sabe é que elas estavam cumprindo assim a função de defensoras públicas, e que os rapazes as recompensariam com mais parcas que fossem suas possibilidades ao final daquela jornada.
                   Mas como a vida é mais generosa em argrúrias, os planos dessas amorosas docentes vieram por água a baixo, quando a esposa de um dos guardadores deu um escândalo lá no recinto em questão, berrando aos quatro cantos que o marido e seus dois colegas estavam com caso com dois "professores viados sem vergonha" da escola ao lado.
                      Continuam guardando o carro lá com os rapazes mas hoje só se olham triste e apagadamente, nem de longe se observa o fulgor dos olhares anteriores e novamente a vida toma seu curso triste monótono.


                                                                                                           Pedro Guimarães

terça-feira, 5 de julho de 2011

Viver no Rio



O prédio. Uma onda quase um S na encosta de um pedregulho no alto do bairro de São Cristovão, nas costas dos morros do Tuiutí e da Mangueira. Nesses 25 dias que ali fiquei convívio-confidentes com Regina, Mariana,Sabrina, Cláudio,Renatão, Maria, Né, Bel e outro(a)s tant(a)os. Percebia as crianças presentes em todas as partes e horários, queridas e amadas, mas que seriam perfeitamente dispensáveis ;Para os adultos aproveitarem melhor a roda de papo tomando cerveja, o fazer  do cabelo e da unha ,ou simplesmente liberdade para hora em que eles falam e riem-se de todos os outros conhecidos vizinhos, vivos ou mortos, próximos ou distantes.
 As crianças são cuidadas por quem esta mais perto e aí morre o perigo. O corredor é o espaço do convívio mais estreito, as portas estando abertas é sinal de que o morador esta disposto a bater papo, sempre há uma ou outra porta aberta e alguém sentado do lado de fora. Avôs aposentados ou algo parecido, arrimos de família. O calor libidiniza os assuntos o sacolé custa de 20 a 50 centavos e está sempre a refrescar quem o chupa, isso faz do corredor um ventilado ponto  onde tudo se conversa. E que vocação ao bate papo que tem o carioca, eles falam muito, o tempo todo, sobre tudo as vezes não conseguia entender o que estava sendo dito , e tenho a impressão que nem mesmo eles o sabiam ,mais mantinham essa prosa louca e minimal, mais por necessidade de um bem estar dentro de seus antigos hábitos do que algum questionamento ou construção de razão transgressora.

O mais enriquecedor desta brincadeira foi sentir-se acuado por um sotaque diferente hegemonicamente absoluto, donde muitas vezes (eu que muito falo) me via obrigado a exercer a audição me calando por sequências inteiras de momentos. E para minha grata surpresa em outras situações ser acolhido e requisitado ( Em muitos momentos as pessoas achavam que me conheciam ou diziam ter a impressão que já haviam convivido comigo há muito tempo).

Volto assim com uma certeza, se Euclides da Cunha disse: O sertanejo é um forte. Amplio essa força e esse sertão a outras paisagens do nosso Brasilzão.

Difícil é a vida no Rio, pouca grana, aluguel caro, serviços fundamentais que se fecham cedo, medo de bala perdida, no morro a população desproporcionalmente “preta” ; mas o sorrizão ali presente, a disposição ao bate papo, o suingue dos quadris que rebolam até mesmo quando se sobe o morro carregando peso, a alegre malemolência de cachorros que levam a carroçinha divina aos céus após terem capturado o cão para no paraíso virar sabão, que se encontrava escondido num baile funk proibidão.



Sobre o morro Santa Marta



Oitocentos e cinquenta degraus na direção do suvaco esquerdo do Cristo. Adorei aquele elevador, quando você chega lá no alto na sua ultima parada, a brisa é mais revigoradora do que a visão, do Cristo, da lagoa ou da Baía, na parte mais alta do morro a antiga escola que hoje é a base da polícia pacificadora , alibans com uma puta vontade de serem “Americanos”. O visual do alto é enlouquecedor, o Cristo, a mata, os bairros nobres no pé do morro, as águas, o muro e a favela.

A favela vista do alta e de dentro, leva-nos a pensar: Quem esse cristo protege ou favorece? Embora haja algumas casas feitas pelo PAC, outra feita pelo Luciano HulK, passarelas e postos de coleta seletiva de lixo, o colorido acinzentado da pobreza ainda é muito forte. Não se vê armas (só com os policiais) e nem uso/tráfico aberto de drogas, e isso me parece algo bom. Mas ainda vemos barracos sem janela, uma água suspeita que escorre da parte mais alta, muito lixo, pessoas fazendo nada e muitas crianças.

Por todos os lados crianças regidas pela sinfonia do ócio e do mínimo cuidado, que nos revelam que mesmo estando matriculadas não conseguem ler e escrever. Crianças que são cuidado de todos, de quem estiver mais perto, sorridentes , lépidas,falantes e serelepes; mas também com a pele manchada.

A primeira vez que subimos no Santa Marta ou Dona Marta? Até agora não entendi. As crianças e o seu Armando (couro seco) pinguço oficial do morro nos receberam , fomos até a quadra, até os barracos mais insólitos no alto do morro acompanhamos o traçado do muro por alguns metros, com  seu Armando que o tempo todo lembrava-nos do perigo das cobras ( que segundo ele e outros moradores do morro enfestaram o lugar depois das obras).

O desenho do buraco no muro, a poética irtervenção das pipas a luta de capoeira dos meninos de afrofuturismo. Todos esses momentos foram uma maneira sutil de especular e fazer parte daquele lugar por alguns instantes, porém o que mais me entorpeceu ali, foram os olhos, sempre  foram algo que me perseguem e eu reciprocamente eles desde minha mais tenra fase. Os olhos daquelas crianças dizem o inevitável que mem elas mesmas sabem mas imaginam. Que só será redimido se alguma perspectiva for ali nelas introduzida. Os olhos do Armando couro seco, seguidos de uma voz ébrio-psicótica a dizer que todo negro de São Paulo é seu primo e filho do Pelé, sendo assim rico. Seguido de um ímpeto sacro-profano (na segunda vez que nos vimos)gritando que São Pedro é F.d.P. por inundar São Paulo e deixar o Rio Tão quente e seco por tantos dias, senti nele ali naquele momento a força trágica que não há mais no teatro atual.

Mas foi na procissão para o padroeira da cidade São Sebastião que tive os momentos mais emocionantes da minha incursão no Dona Marta, um reizado que desce o morro todo ano, que maquele momento desceria sem o palhaço, pois o mestre havia morrido algumas semanas antes. Uma comoção de luto, as pessoas cantavam, andavam e choravam com S. Sebastião a’ frente atravessando até os fundos de um ensaio de escola de samba sem que uma coisa atrapalhasse a outra, esse santo bonito, martirizado com ar de lascívia e desejo homoafetuoso, que é posição sexual, padroeiro de causas e amores escusos, canibalizado por Mishima no Japão quase feudal da segunda guerra mundial. Saravá Rio, Saravá São Sebastião e que os muros não sejam capazes de apartar possibilidades de encontros, trocas e amores, para que a sociedade brasileira se transforme e avance.
 


Pedro Guimarães
Residência( experiência imersiva) no pedregulho(minhocão do São Cristovão) Rio de Janeiro 

terça-feira, 28 de junho de 2011

NA TELA DO ASTRO

                                                                             Na sonolência de preguiças errantes, me virava de um lado pra outro da cama quase vazia, quando ouvi tão bela canção que radiava da televisão.
Tão difícil radiações legais principalmente da televisão, embora eu a mantenha ligada o tempo todo.
Era uma música do João Bosco, um dos maiores monstros sagrados da nossa música, ainda na ativa, descendente de arábe, com aquele nariz quase falo, herdeiro do maneirismo dissimuladamente mineiro e totalmente devotado ao catimbó do malacuchê mais profundo.
Com seus atonados rodopios sonoros, me senti elevado. Trata-se de uma novela que a maior emissora do pais, esta regravando para estreiar em breve, e o fato é que a trama acontece em torno de um vidente e seus clientes , se é que podemos chamar as pessoas que procuram esses magos de "cliente", não quero ofender ninguém.
O que me inquieta é:
Como uma historia de um vidente no Rio, cheio de favelas e povo negro,  centralize-se neste senhor de alvos olhos claros e nenhum tipo de relação com a macumba (sim por que quando o espirito abaixa em preta é pomba-gira; quando abaixa em branca é espanhola), seria para agradar os setores evangélicos que não existiam ainda quando foi feita a primeira versão; mas talvez já estivessem ali sendo pré anunciados ?
Não me faço de ingénuo nem tampouco auto comiserado, já ouvi produtores de TV dizerem que não trabalham para instituições de caridade, ONGs ou coisa parecida; televisão mostra o que as pessoas querem ver e gostariam de ser, pura lei de mercado.
Talvez seja por isso que nunca sejamos aquilo que o consumo nos faz sonhar. De qualquer forma não vou aqui me colocar como um praguejador/ malidiscente da TV e suas celebridades( embora seja isso que eles mereçam), venho felicitar e agradecer aos barões desta emissora de TV a possibilidade de uma música tão linda do João Bosco poder ser tocada e assim conhecida pela "mulecada". Evohé, Axé Saravá. João Bosco.
Pedrão Guimarães

segunda-feira, 20 de junho de 2011

BISCATEAÇÃO

Todos devem se lembrar da praçinha, praçinha da matriz onde nossos pais e avós se conheceram e se  reconheceram ,na época do antigo “footing” onde as moças andavam no sentido horário e os rapazes no sentido anti-horário, para que homens e mulheres pudessem se ver e apreciarem-se, tudo caminhando para futuros enlaces, namoros, noivados - casamentos.
Como se prevê o protocolo dos bons modos e relacionamentos; mas nem tudo são flores, agora me refiro a certa cidade com menos de 100 mil habitantes, distante com praças espaçosas , arborizadas recheadas de jogos de dominó e xadrez para idosos aproveitadores de seu tempo diurno vespertino, aparentemente tranqüilos e desprovidos de maiores má intenções; se não levarmos em conta o que podem dizer e pensar esses velhos.
Um cenário de harmonia e acomodação de tudo que é belo; se não fosse por um único detalhe ,tais praçinhas ao cair da noite abrigavam uma horda de adolescentes, ninguém nunca soube explicar com quem começou ou porque?
 Principalmente a praça da matriz passou a abrigar esse grupo de jovens em tenra idade que se entregavam aos seus desejos mais obscuros e recônditos, oscilavam numa faixa etária de 12 a 17 anos, não iriam para rodovia e postos de beira de estrada, isso para os moldes daquele lugar era algo muito vulgar e desmedido.
Já a praça da matriz não. Era uma unanimidade, um lugar sacro-santo. Que mal haveria em jovens ficarem na praça de frente a igreja maior, até certa hora da noite?
E sem que ninguém notasse ou talvez até por uma tolerância perversa, os adultos faziam que não percebiam, ou permitiam este súbito deslize de suas crianças, pois até onde me consta ninguém cobrava nada(pelo menos mais do que já recebiam).
Assim esse grupinho de jovens pode apreciar as delícias do sexo, sem ficarem mau vistos ou mau afamados no lugar, para todos os efeitos mantinham vossa castidade. Entregavam-se à homens mais velhos, vendedores na sua grande maioria que sempre estavam ,hospedados de passagem e que nunca iriam revelar os segredos daquela patotinha faminta.  
As outras e iniciais incursões sexuais ao que tudo indicava ocorriam dentro de casa mesmo ,coisa que as famílias não revelavam, dessa forma estavam protegidos  e em segredo para poderem continuar a trilhar esse trajeto de pecadinhos secretos, tão necessários ao ser humano, principalmente quando se vive sob o controle de um lugar castrador e proibitivo.
Vendedores de remédios farmaceuticos, fornecedores de tecidos de magazines, negociadores de madeira derrubada e transportada ilegalmente para madeireiras,fornecedores de bebidas, representantes de oficinas de lingérie, gerentes de frigoríficos e toda sorte de machos sem vergonha, a serviço do capital, faziam os negócios circularem e o dinheiro se justificar naquela localidade, e por sua vez alimentavam desejos e fomes infanto-juvenis, quantas: Gretas, Marcinhas, Paulinhos, Vitinhos, Carolzinhas, Estelinhas, Ruizinhos,Caetanos, Lauras , Jorginhos e alguns que nem mais lembro.
Na sua generosidade adulta, esses novos caixeiros-viajantes, iniciavam e satisfizeram jovens de todos os segmentos: Biscatinhas, viadinhos, sapinhas e recém casad@s.
Ninguém foi denunciado por pedofilia, era um escambo fortuito, o forasteiro não depreciava a imagem dos joven local, e os jovens locais não taradificavam a imagem do forasteiro. Essa dinâmica durou muito tempo, e talvez até hoje esteja em prática.
Mas o que venho dizer neste momento é que: Todo mundo de certa forma sabia, e essa omissão nunca entenderei!
 Diferentemente da ruína do cinema, onde muitos evitavam passar até na calçada ,e que se alguém dissesse ter te visto de lá saindo, isso provavelmente acabaria em pancadaria.
A praça da matriz  não; era envolvida de uma bruma de misteriosa aceitação, como se uma nave pousasse, para fazer experimentos com todos aqueles adolescentes que por ali desavisada ou propositalmente andavam depois das oito da noite.
Entre a matriz e o hotel, alamedas em flor, troncos altos, rígidos , exuberantes, arbustos tão intrínsecos como pêlos pubianos.
Que lá foi capaz de criar duas sensações de seus antigos freqüentadores lembranças suspirantes e nostálgicas de uma época de ouro; ou de abjeções que a qualquer custo devam ser esquecidas.
PEDRÃO GUIMARÃES