- Ro!Eu disse. Tudo bem eu sei que vem de
- dentro.
- Que é atávico, ancestral e monstruoso.
- Mas controla esse seu apetite, uma hora
- você pode até devorar alguém.
- E isso é perigoso. Ela só ouviu e riu.
- - Vi ontem uma barraca de camelô na consolação.
- A pessoa vendia pedaços de abacaxi e
- melancia
- Que saudades de quando podia!
- Sim por que hoje vivemos a tirania de ter
- que frequentar alta gastronomia; ou a
- solitaria masturbação de nossas casas e
- televisores.
- Uma mentalidade consumista e
- fascistamente anti-pobre que tomou
- conta da
- cidade.
- O churrasquinho na calçada me defuma
- estragando o meu perfume francês( ouvi
- esse comentário um dia desses).
- Que saudades das ruas da cinza SP,
- coloridas com vendedores de frutas e
- comidas, que tanto lhe imprimiam um
- pouco mais de vida.
- Das pessoas nas calçadas comendo,
- bebendo e rindo.
- Nas calçadas hoje depois de certa hora, só
- a miséria da pedra,do catador de alumínio
- a mendicância.
- Talvez seja melhor esse quadro; do que
- pessoas felizes nas vias e alamedas.
- Comer algo gostoso e barato na rua.
- Sem que o higienismo que tomou nossa
- urbe.
- Determinasse o que pode ou não me dar
- vermes.
- Tenho certeza que os vermes corroem os
- pensamentos e segredos.
- Destas autoridades que tudo proibiram.
- Continuo com fome de tudo que preenche
- meus sentidos de vida.
- Odiando tudo e todos que me privem de
- veleidades absolutas.
PEDRO GUIMARÃES