quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Nativo-idade

Nos encontramos naquele vagão de metrô era natal.
Ela tinha uma euforia de quem bebia a uma ou duas noites, e sem dormir sem sonhar.
Sua alegria era um torpor de quem convive com tantos dessabores.

Falava-me sobre a prisão da Nalva e ria, um riso alto forte. Coisa que incomodava as pessoas ao nosso redor. Sentia-se justiçada vingada por um Deus assim justiceiro (tipo juiz Sérgio Moro de Curitiba) que foi capaz de castigar aquela que tantas vezes se recusou a lhe servir o último trago de bebida. Que tanto lhe esculhambou, muitas vezes lhe expulsando donde convive com tantos outros, fugindo da só convivência de si mesma. 
As vezes compartilhar a companhia só com você pode ser mais aterrador que a própria de ideia do infortúnio mais sofrido.
 Sei o que isso significa!
Mesmo tripudiando a má sorte da Nalva. Ria da sua própria tristeza de conviver com tantos e continuar só como se isso fosse uma especie de montanha intransponível.
As pessoas ao redor se incomodavam mais não falavam nada, preocupavam-se com seus presentes, ceias, percursos,pouca grana, abraços culpas e desculpas natalinas. Por que essas épocas expõem tanto nossas mais intimas tristezas?
 De onde vem o castigo da vida?
Ela então descontrolada contou que trocara a luxuosa casa da irmã na estrada do horto pra acampar nesse natal com sua namorada numa esquecida e abandonada estação de trem no começo da serra do mar.
Cada vez mais alto queixava-se de maus tratos reservados a sua pessoa por outras que de tão arrogantes, esqueceram de tempos inglórios que passaram em hospícios e casas de repouso onde ao invés de se descansar a alma só se acumulam lembranças e ressentimentos. Que nessas épocas de festas precisam ser expurgados aos goles do álcool, com o cheiro da droga e o esfuziante delírio de se viver pra sempre sobre o efeito de alguma substância que faça da vida uma alegria tão grandiosa que não se tenha mais vontade de se libertar dela. Tornando tudo a nossa volta um balsamo de colorido alucinógeno.  
Pedro Guimarães.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Machaiada

Vejo homens regozijando-se entre os iguais sobre as diferenças que os tornam, formam e os armam homens.

Não sei por que amam-se tanto. Talvez admiração, receio ou competição peniana. Quem sabe?
Com as mulheres gozam e as amam desde que não falem muito. Pois como já disse a poeta a língua é o pinto da mulher. 
Quer casar comigo?
150 reais é o valor do que te reservo.
Você é uma mina agradável o seu valor então é 170 e não se fala mais nisso.
Me pergunto sobre o casamento entre um casal que se prostitui? Outro dia no supermercado observei. Eles  com um carrinho lotado de itens: grãos, secos, molhados, embutidos, laticínios, gasosos, sólidos e liquídos galactósos. Desfilava esse casal, por entre as prateleiras e gôndulas superlotando cada vez mais seu carrinho de compras despreocupados do pavor ou sentimento de crise. Afirmado o tempo todo pela globo, pela direita,por nossas dificuldades, pelos incautos facínoras pela Lilian white fibe.
Por onde passam arrancam olhares, ninguém diz nada; mas percebem.
 Ela exibe suas ancas firmes e rijas, tem a pele bronzeada pelos descoloridos usa malha de academia de ginástica com peitos tão salientes e altivos como d' uma travesti. E olhos, que talvez sejam lentes, de um azul mais celestial que o da música do Djavan e farta cabeleira loira.
Ele por sua vez ostenta um abdomém e braços musculosos com tatuagens que sugerem fogosidade e virilidade pornográficas. Compram os artigos mais caros.
Começo discretamente a segui-los pra ouvir seu enredo. Comentam da ida à Riviera de São Lourenço com um cliente dela. Ele  fala de seus atendimentos  europeus na Espanha na época das vacas gordas europeias, riem-se. Percebem que os espiono e começam a falar mais alto para exibirem sua superioridade. Eu então saio fora desse jogo pois já havia ouvido o que me interessava. Porém antes de tirar o meu time de campo ouço a última informação que me estarrece. Ela revela que num "programa-suruba" que faria com uma amiga e dois caras, se recusou a prosseguir pois um dos participes seria um garoto de programa que trabalhava com ele seu márido. E que isso poderia gerar fofocas, boatos e difamações no "meio".
Fui embora pensando que moral e ética é aquela?
Nós que nos consideramos honestos e recatados nunca imaginamos o quanto essas pessoas estão carregadas da mesma moral que nos orienta, por mais que desviem do nosso comportamento; são capazes em situações extremas de nos superarem em escrúpulo e moralidade.
Repito aqui então o chavão mais batido: Todo macho esconde dentro de si uma bicha faminta ( exame da próstata é temido por fantasia que o médico com o dedo o maltrate tanto quanto já maltratou outrem com seu pau) e toda puta quando se encontra encurralada liberta de seu interior o que tem de mais santa (Bom exame de próstata para toda machaiada).    Pedrão Guimarães

sábado, 1 de agosto de 2015

REGINA RAINHA

Regina você é bandida!

De vida cachorra atrevida.
Espivetada menina com força e energia.
Com fome/ loba, dragão de rapina.
Intensa e obscura em desejos
 dos melhores amores e mordidas.
Regina doidinha contida.
Coroa em ave distinta .
Rezando  controles fogueteiros.
Sonhando coisas antigas.
Regina louca absoluta.
Querendo e batendo nas tipas.
Vive em condominio e se resigna.
Com a flor que explode, Regina.
Sua vontade é de estapear mais da metade das vizinhas(As tipas).
Seu controle vem de filhos e marido, Regina!
O entendimento vem de um trabalho duro.
Trabalhamos todos, com nossas duras realidades.


Que as vontades de espancar o mundo. Não reginem -nos Regina!
Exercita muito amor. Regina!
Não tem ódio dos estrangeiros. Tenta imaginar!

As vezes curiosa pensa-se batendo nas tipas, daqui e de lá.
Mantém um amor por quem vive aqui perto.
Sabe onde o márido está e o que faz!
O final do dia e da semana é seu.
Provoca tudo que domina Regina.
Regina é bandida da vida cachorra atrevida
Carinha marota ,titia, garota cunhada que explicíta o dia que levitou  e pôs no cabelo uma fita.
Regina segurei sua gana de bater nas tipas.
Gosto da sua vontade incisiva e menos descontida de rompantes.

Regina menina restrita concisa. 
Rio-me quando faz-se Regina. Clamando-me: Vamos bater nessa tipa?
Pedrão Guimarães



quinta-feira, 2 de julho de 2015

Gal-Bethania (Lucichana)

Ouvi então hoje que a Gal costa está rouca sem pescoço com os ombros encontrando com suas orelhas(Carona). Que sua beleza e voz foram embora. Como se isso desabonasse seu talento e existência enquanto Diva.

 Falavam também da "feiura" de Maria Bethânia que hoje não pinta o cabelo. 
O quanto isso possa ser e é desleixo e descuido. Suspiro em uma tristeza profunda e perturbadora. Não consigo falar nada perante a decrepitude destas pessoas que fazem tais comentários. A própria e avassaladora degradação que os assombra tão presente neles mesmos. 
Pontuada por uma rotina burocrática, sofrida, invisível sem amparo ou socorro de alguma entidade amorosa que os acolha.
 Mesmo que o amor esteja dentro de um ofício necessário pra coisas tão simples e  incontestavelmente vazias, que os montes olimpos não nos restituam mantendo nossa beleza jovial. Sem mais amor do que possamos ter.
Horror maior talvez seja a  impressão da compreensão dos sensores que a vida nos propicia e depois nos nega. Como um remédio que só nos foi dado por algum tempo.
 Manipulado por um doutor perverso e sequestrador como os homo-amores de Mário de Andrade. Não consigo dizer ou viver essa declaração: Eu sei que vou te amar, por toda minha vida!
Amarei todas as pessoas por toda a minha vida e por isso sou um idiota.
 Mas ressoo  minha idiotice gostosa que talvez me eleve à um sentimento que redima meus males e dores.
Gal costa prometeu sua beleza e voz eternamente cristalina? Nos traiu a partir de sua condição humana?
  Bethânia manteve sua voz e  condição de mais "feia"  que a Nara Leão e a Elis Regina? 
Era um concurso de beleza que as motivou nos fazer e sentir tantas coisas?
São as mulheres mais lindas que motivam e estancam sentimentos das dores que me assombram.
 "Anjas" que acalantam minha demonice onde encanto-canto, vivo e sobrevivo. Pois viver é muito mais difícil que existir.          

Licença poética:


-Luci, ama, clama,trama e chama-se. Luciana.
Clama um amor que quis muito.
Embora tanto quisesse não foi pra cama.
Luziu uma chama flamejante.
Com tanto desejo.
..."A seda azul do papel que envolve a maçã da"...(Caetano veloso)
Laurentiou sua fama.
Esperou o momento de amar.
Deu o bote.
Resignou-se; sem nunca ter temido também expor-se.
Constituiu o céu que aportou.
Soube retrair-se na hora certa.
Mordeu aquele grelo como se fosse o seu próprio.
Invocou sua submersão das lamas.
Não menos interessante.
Fez coisas insignificantes.
Persistiu no dia de ter sua posse.
Destruiu o platônico.
Do monstro a diva.
Inverteu seu número.
Ama mais que todas.
Poderia até ter se tornado puta pra realizar seu sonho.
Bethânia, Gal e Caetano ouvia com força.
Tudo é no que queria.
Carinho. Sempre amei tua valentia.
Riu-se do mundo depois desse feito auto-transformador.Hoje é Lucichana.

Pedrão Guimarães.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Sonhos de magistério ( Do Trilogia Biscate)


Sonhos do magistério.(Trilogia biscate)

Sábado, véspera de páscoa, a professora Geni encontra-se em sua kit na rua Nestor Pestana, suspira num misto de tédio e solidão, vai até a janela do vigésimo andar do prédio onde mora e observa na rua uma profusão de passantes, automóveis, prostitutas
luminosos de bares e casas noturnas.
 Quase meia noite,  ela não saiu nem tampouco tem sono, vai até a geladeira e toma um copo de leite, quando o telefone toca ela o atende com prontidão, mas antes que pudesse falar algo mais que a saudação inicial, ouve uma voz máscula, grave e ameaçadora que diz: Seu Titanic vai afundar, piranhazinha (desligando).
 Geni por um momento fica aturdida , pensando.Quem poderia ter feito uma brincadeira  de mau gosto daquela comigo, justo ela que encontra-se  tão absorvida com seus afazeres de professora que mal estava tendo tempo  para o convívio social.
 Liga a TV,  ri-se assistindo uma comédia italiana antiga, isso já são quase três horas da manhã quando o telefone toca novamente, ela o atende em quase descontrole : Alô alô...
0uve aquela voz novamente:Vassoura é pra se varrer a casa  não para sair voando (desligando). Neste momento a professora sente-se vítima de algum tipo de conspiração masculina,  frágil e ameaçada, pensa consigo mesma .
Quem seria capaz de estar fazendo isso comigo?
 Sou uma pessoa de princípios aristotélicos e humanistas elevados , não mereço esse tipo de terrorismo, se ainda estivesse envolvida em alguma maluca história de amor ? Há quase um ano  não vou pra cama com homem algum! Aumenta o volume da televisão e dorme na frente do aparelho numa tentativa de sentir-se acompanhada e segura, mas no entanto é acometida de um pesadelo onde ela se encontra vagando dentro de um labirinto insuportavelmente branco ouvindo vozes, gemidos, risos e passando por rostos nunca antes vistos, por volta de cinco horas da manhã o telefone toca novamente, Geni sobressaltada atende ao telefone e na sua ira, diz antes de ouvir qualquer insulto.
- Escuta seu cretino, eu tenho irmãos que vão quebrar sua cara e te colocar no seu devido lugar, guarde seus gracejos para sua mãe...
E a mãe dela então responde do outro lado:
 Geni sou eu sua mãe, algum problema minha filha?
Geni: Não é nada não mãe eu só estava tendo um pesadelo. 
Mãe: Pesadelo na noite do sábado de aleluia para o domingo de páscoa, isso não nada bom, é falta de religião, vocês estudam e se afastam da religião!
 Geni: Mãe, a senhora me ligou aqui cinco horas da manhã para me dar sermão!
 Mãe : Não é nada disso. Eu e seu pai levantamos aqui no sítio para matar uns frangos e um leitão para o assado do almoço de páscoa, seus primos e suas tias virão, quero confirmar se você vem ou não?
Geni: Não mãe! Tenho uma pilha de umas quinhentas provas para corrigir, na segunda eu ligo para saber como estão todos e como foi tudo aí, agora preciso dormir um pouco. Tchau mãe (desliga o telefone).
 Aquela ligação de sua mãe serviu como uma espécie de acalanto, que faz com que ela tivesse algumas poucas horas de sono tranqüilo, parecia, que a inconveniente ligação da mãe havia tido um resultado inverso, era como se a mãe neste momento fizesse a função de uma santidade protetora que aliviou a moça por alguns instantes do espectro infernal, pela qual esta passava.
           Até as nove e meia da manhã tivera um sono de anjo dormira com uma tranqüilidade serena que há muito não conhecia, parecia que tudo que havia passado nas horas anteriores não passava de um pesadelo distante, até que então o telefone volta a tocar, ela já com seu espírito desarmado, volta a atende-lo:
“ Alô “?
E aquela voz infame novamente entra na sua vida.
“Toda puta acorda linda. Descabelada e com mau hálito“. Desligando.
Ela: Alô alô alô...
           Novamente tem início seu martírio, senta na cama e chora, retoma sua integridade e diz para si mesma: Se esse filho de puta rampeira, acha que vai me destruir, ele está muito enganado, justo eu uma pessoa arraigada de princípios aristotélicos e humanistas, mas não vai mesmo.
         Levanta faz sua toalete, e começa a corrigir suas provas, e faz isso com a determinação e firmeza de um soldado alemão da segunda grande guerra. As horas passam, já são treze horas daquele terrível domingo, e ela sentada na mesma posição há mais de quatro horas, corrigindo suas provas. 
          Aí então toca o interfone, Geni quase cai da cadeira, ao atender descobre ser um amigo seu , uma espécie de confidente, companheiro de noitadas e baladinhas gostosas. Fica aliviada e pede que este suba. A presença de um homem do tipo forte e mundano era tudo que ela precisava neste momento. Abre a porta para seu amigo Léo.
 Geni: Que bom que você apareceu estava a ponto de enlouquecer.
Léo: O que foi? Tá tão abatida , saiu ontem pra noitada?
 Geni: Noitada, coisa alguma, não dormi a noite toda.
 Léo: Já sei, ficou a noite inteira namorando? Conseguiu o cara lá... 
Geni: Escuta Léo estou sendo ameaçada por um cara que me ligou a noite toda me falando coisas horríveis.
 Léo Mesmo?!? Quem será algum ex-namoradinho, ou algum futuro amante?
Geni: Não brinca Léo a coisa é seria, não faço a mínima ideia ,estou tão amedrontada. Léo então se propôs a ficar com Geni todo resto do dia, abriu a janela, colocou uma música e conversou bastante com a amiga, coisa que a acalmou bastante  ficaram os dois fazendo um jogo de associações e deduções, com o objetivo de descobrirem quem pudesse ser o canalha que torturava a professora.
          Lá pelas três da tarde Léo fez um chá de camomila para a moça, esta entrou no banho de onde saiu só com um roupãozinho, Léo arrumou as almofadas na salinha de  kit, obrigando a moça a tomar o chá quente, que em poucos minutos surtiu efeito fazendo com que a jovem adormecesse lânguida e libidinosamente entre o roupão e as almofadas, sentia-se em estado de graça.
           Neste momento Geni, sonha que está indo para escola onde trabalha, carrega uma pasta em uma das mãos com as provas corrigidas dos alunos, e em outra das mãos um grosso livro do Sérgio Buarque de Hollanda, sobe a rua da consolação à procura do ponto de ônibus mais próximo, tem no rosto a expressão de seriedade e introspecção de mulheres eruditas e, no corpo uma rígida postura de um bom condicionamento físico, de repente nota buzinas, assovios, derrapagens de carros, palavrões e um grupo de homens correndo em sua direção, quando então percebe no sonho estar completamente nua em plena rua da consolação em alta luz do dia provida somente de seus livros e papeis/materiais de trabalho, desespera-se e tenta argumentar esbravejando:
          Me respeitem sou uma intelectual, no momento em que a turba masculina, chega de encontro a moça esta acorda, gritando em sua sala envolta no roupão e sobre suas almofadas, molhada de suor num misto de estupefação e deleite.
Léo: Tudo bem Geni? Você me assustou!
Geni: Foi só um sonho me traz um copo de água.
        O telefone toca novamente, os dois se olham assustados, Léo então diz para Geni que atenda e tente prolongar a conversa, ela embriagada com o sonho que acabara de ter, pega o telefone.
 Geni: Alô!
 Voz ao telefone: (cantarola)Parece que eu sabia que hoje era o dia de tudo terminar...
Geni :(continuando) Pois logo notei quando telefonei pelo seu jeito de falar... Eu já sei quem é você e se insistir em continuar, vou à policia (batendo o telefone na cara do facínora).
Léo: Conta Geni o que está acontecendo?
Geni: É o Tato!
Léo: Casinho seu!
Geni: Bicha!
Léo:Amiga ou inimiga?
Geni: Inimiga agora.
Léo: Não estou entendendo nada, explica melhor.
Geni: Há uns dois anos atrás estava eu e uns amigos do interior, tomando banho pelados numa cachoeira lá do paranapanema, sabe assim gente livre e feliz?
Léo:Sei!
Geni: Foi aí então que conheci os dois, Tato e Tito, nadaram com a gente, eram namorados, depois passaram a vir para São Paulo, e eu os hospedava aqui na minha casa, nos tornamos grandes amigos. Às vezes até viajava deixando meu apartamento para eles poderem transar mais à vontade.
Léo: Gostoso assim! Isso  que é santidade, você é quem merecia canonização.
Geni: Não brinca Léo, é coisa séria, depois que o Tito resolveu acabar o namoro, o Tato enlouqueceu, achando que eu estava transando com o Tito, até fez umas ameaças mas desapareceu, eu o reconheci agora, por que sempre que a gente bebia cantávamos essa música.
Léo: E você  chegou a comer o marido da bicha ?
Geni: Nada eles não deixavam nem eu chegar perto, e se fosse pra comer alguém ali, teria sido a bicha , que eu achava bem mais interessante (Risos).
Léo: Pois é! A vida e as peças que ela nos prega.

Pedrão Guimarães

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Me diga. Amor.

A dor dela é de um câncer mas não te falarei. Sempre me avista antes. Me chama pelo nome e eu acabo lembrando do seu. 
Recordo de quanto a ensinei. Ela por sua vez temia a vida que tentava amadurecer e não reclamar  da "Sida". Vida que até hoje não amadureceu.
O que trago daquele tempo são só as dores, que não tão doces, favorecem as cores dos amores que sempre vivi e sôfregos me alimentaram tornando-me o que sou. 
Portento aquilo que sobrevoou minha pele, meu rosto e nossa vontade de não ser nada.
Temo o esquecimento mais do que a morte. Só a vida acalanta meu puro desejo de ser amado. 
Tenho medo do desamor para comigo.Não sei quanta dor consigo e não a desejo.
Talvez amar alguém seja necessário saber quem?
Vivo tentando fugir dos meus ódios.
O sentido do controle me escorre pelos dedos e vou lambendo lambendo, aquilo que pra você parece bobagem.
 Besteira maior é sentir o que não se pode dizer. 
A idiotice de sentimentos ocos.
 Quem sabe um dia, uma tarde uma noite.Consiga  controlar meu sonhos pra que isso não assuste tanto. Nem traga tanto espanto.
Gosto tanto da vida que sonhos estranhos amedrontam-me da morte.
Meu mal é gostar disso que vivo comigo e com os outros; até com quem não conheço.
 Isso macula minhas lágrimas, ternuras e dores.
 Por que as dores?
A vida seria tão melhor sem elas!
Pior que o sal das lágrimas é a insistência naquilo  que não conseguimos. Algum tipo de poesia, por mais barata ou vulgar que se apresente.
Por que o amor é tão dificil?
Por que o amor é tão dificil?
Por que o amor é tão dificil?
Por que o amor é tão dificil?

Por que o amor é tão dificil?
Por que o amor é tão dificil?
Por que o amor é tão dificil?
Por que amar você não foi possível...?

Pedro Guimarães.                                                                  https://www.youtube.com/watch?v=UUDXFJxTAOU

terça-feira, 14 de abril de 2015

Negra ruiva

        Parece minha tia Cercila, confesso que não conheci muito esta senhora ente querida. Mas Cercila aqui minha vizinha conheço bem são treze anos convivendo e a encontrando na calçada, mercado e nos elevadores. A conversa entre nós é sempre cheia de capsciosidade e um certo tom de libidinosidade sempre me perguntando sobre minha vida sexual-matrimonial e se saio pra sambar. Quando encontra com meus amigos músicos aí fica ainda mais afoita e curiosa.

        Sei que ela é natural do Grajaú (Rio de Janeiro) que mora em São Paulo há mais de 30 anos onde trabalhando como cozinheira e doméstica em casas finas conseguiu comprar seu apartamento aqui, reclama muito do quanto é vítima de inveja e olho gordo e que dessa forma tem que proteger-se  espiritualmente. Nas  sextas-feira vai num terreirinho bater tambor (saravá meu pai), no sábado vai louvar na igreja evangélica e termina essa peregrinação no começo  da semana: Domingo, onde vai a missa comungar com santos e o espirito santo.
           Com sua vaidade extrema mantém seu picumã (cabelo crespo)  bem alisado pra cima conexão com o cosmos. E com uma indefectível tinta vermelha que lhe dá assim um ar e status de madamezona branca. Volta e meia comenta como é abordada nas ruas por elogios aos seus cabelos.
             Dona de um olhar faminto de quem esta prestes a devorar o primeiro homem que cruzar a próxima esquina, é inquieta, falante, sagaz dona de uma seriedade antropfágica. Coisa que pode faze-la as vezes mal interpretada como louca, tarada coisa assim. Mas muito pelo contrário é até recatado e sofrega.
        Tem um pequeno desafeto com Almira uma ex moradora daqui professora de história engajada nas lutas sociais, aguerrida com um discurso mordaz ideologicamente patrulhador, pois essa certa vez cobrou posicionamento político mais condizente dela enquanto mulher negra.
         Há alguns dias atrás encontrei essa "Cercila", ela falante e apressada começou uma prosa comigo sobre ervas para banhos e endereços de lojinhas de artigos religiosos.
- Disse estar bem por fora desses assuntos e aproveitei para dar uma alfinetada, começando assim esse dialogo:
Eu- Cadê Almira? Tem visto?
"Cercila"- Você não soube? Mudou-se.
Eu- É mesmo. Agora me lembro, alugou uma casinha lá no Butantã.
"Cercila"- Que chic ela não?
Eu- Casou-se com um negrão lá do movimento negro da USP.
"Cercila" (Num misto de estupefação, inveja e ódio) Sorte dela!
Eu nunca vi nem nunca pus um dedo num negrão.
Só os homens brancos se interessam por mim.
           Nessa hora sai fora pois não iria gargalhar na cara dela, fiquei dias lembrando do ocorrido e rindo sozinho como um débil mental.
                           Pedrão Guimarães

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A cadela da internet 2

               A cadela da internet 2


Razões para o evangelismo.

       
       Claudinei desde muito cedo sentia certas coisas estranhas e fortes, que por receio e algum sentido de sobrevivência ancestral não contava nem pra sua mãe e muito menos aos outros garotos.
       Sabe-se lá desde quando sentia calafrios quando observava homens mais velhos beijando e acariciando suas queridas, não sabia o que acontecia de mais sério entre um homem e uma mulher, mas tinha uma certeza entorpecedora que deveria ser algo sensacional que até lhe dava  medo do momento em que descobrisse.
      Vivendo naquela cidade pequena e provinciana se inclinou a caridade muito cedo, os pais frequentavam a Assembléia de Deus ele os acompanhava não só aos cultos mais também as visitas em orfanatos, asilos, presídios e barracos onde podiam pregar a palavra através do testemunho da bíblia e prover necessitados de cestas básicas, roupas semi novas e até de algum eletro domestico fruto de doação. Assim ele foi crescendo sem que aquilo que lhe era mais incomodo fosse posto a prova ou em contestação, aprendeu a não enfrentar seus demônios internos certo que isso iria ser domado com o tempo, como o cão quem um dia manda-se para o adestrador e tudo se resolve.
       Era bom filho, bom aluno e um ótimo fiel na sua congregação, tudo estava muito bem e de acordo com o que a família traçava para seu futuro de gente ordeira, honesta e temente a Deus. Mas o acaso é de todos os deuses o mais impiedoso.
       Claudinei quando menos esperava foi introduzido nos prazeres da carne por um peão da sítio de seu papai. Com quatorze anos entendeu os porquês daquela sensação que sentia há muito, que temia e não entendia, passou a olhar tudo diferente. As pessoas sempre lhe suscitavam a curiosidade dos palavrões e sussurros da hora de seus gozos e obviamente, como mais gostavam e o que cada uma fazia de melhor no segredo de suas alcovas.
       Aplicado e dedicado não deu trabalho a sua família, saiu de casa só pra fazer teologia, voltou formado pastor pra levar a frente o trabalho de evangelização na igreja onde fora criado, aos 23 casou-se com Marcelle  irmã devota do seu mesmo rebanho. Nas ultimas eleições municipais elegeu-se vereador, mas algo não anda bem.
       Numa dessas tardes quentes de sol Marcelle no salão de beleza enquanto fazia cabelo, unha e depilação intima desabafou a uma das esteticistas que Claudinei não a procura sexualmente que o casamento nunca se consumou carnalmente e que ela tem desejos monstruosos para com outros homens e que se viciou em pornografia que tem acesso graças a internet, fofoca que se espalhou pela cidade toda como uma torrencial chuva de verão.

       Claudinei também esta em risco ele possui uma pequena chácara que aluga e empresta para churrasquinhos a beira da piscina para cidadãos menos abastados daquele lugar, em setembro passado por ocasião do aniversário de um rapagão- mulatão da vila operaria de uns 19 ou 20 anos. A chácara seria emprestada em troca de favores não tão luteranos assim , foi então que o nosso pastor- vereador enviou um torpedo para o celular do rapagão com o seguinte texto : Você me ajuda e eu te ajudo, só um boquete por favor! Te empresto a chácara por dois dias.
       O mulatão sem escrúpulo e coração mostrou o conteúdo do torpedo pra metade da cidade. Como sobreviver com essa tal de  internet.Mesmo o pastor que enquanto vereador criou conceito,dando de comer pra tantos graças a cozinha popular que criou na cidade não esta incólume à cadela da internet.

Razoes para o Catolicismo.


       O que dizer sobre Edmílson. A não ser que desde muito cedo já era apontado como o "viadinho" entregador de pão da padaria central.Embora sofresse deste estigma não se deixou abater manteve-se incógnito toda sua infância e adolescência, quem quer que fosse que abusava sexualmente da criança nunca foi descoberto ou revelado.
       Segredo que Edmílson levara pro tumulo acredito eu; Sendo assim por mais explicito que fossem os  trejeitos e maneirismos do menino, era aceito e tolerado pelo fato do amante não ser do conhecimento de ninguém da cidade ele vivia relativamente aceito se tornando coroinha do padre Aquiles.
     
      Edmílson depois de um bom tempo ajudando em missas e casas paroquiais consegue sua tão sonhada admissão em um seminário lá no vale do Paraíba. Vai estudar do lado, bem perto do santuário da mãe Aparecida, tem uma alegria eufórica que lhe consome o corpo, a alma todos os sentidos.
      Vive nesse seminário por cinco anos onde ordena-se padre:orgulho de uma família pobre e negra. Volta para sua cidade natal, revoluciona paradigmas da religiosidade local faz missas e programas radiofônicos via internet. Seus ritos são repletos de cânticos e coreografias é uma unanimidade dali, adorado por sua comunidade, até que um belo dia; O acaso que é dos deuses o mais impiedoso se faz presente. 
       Após uma transmissão radiofônica internética um canal é esquecido aberto e assim sendo  pode-se ouvir uma conversa íntima sobre uma série extraordinária de posições sexuais entre o padre e o seu amante da última noite; esse então que era considerado a salvação do catolicismo local passa a ser destratado com xingamentos como: macaco/ urubu. 
        Mais um mártir da cadela da internet. 
        Edmílson e Claudinei contemporâneos, conterrâneos e suspeitos de safadezas por uma cidade inteira, um negro outro branco,um extremamente protestante e outro extremamente católico. Movidos pelo sinistro de esconderem-se na sombra de seus desejos inconfessos com a profundidade de assombrações que esgueiram-se  evitando a luz de um "espirito santo" (suas verdades internas), assim como vampiros evitando a luz do sol para não se desintegrarem.Todo cuidado é pouco com a cadela da internet.

                                                               Pedrão Guimarães