terça-feira, 25 de outubro de 2011

Amante Gringo

Parecia tudo muito tranqüilo e prosaico, mas o assunto que se discutia ali tinha uma profusão e profundidade muito maior do que aparentava aquela modesta conversa-confidência, entre duas mulheres brasileiras, recém chegadas da Europa.
Sentado em uma mesa ao lado cessei qualquer auto-ruído que pudesse me impedir de ouvir estas duas moças senhoras que, conforme se entregavam ao calor do álcool, falavam-se sem maiores receios e pudores.
Para os brasileiros de um modo geral morar na Europa ou nos Estados Unidos se caracteriza como uma espécie de carimbo de diferenciação é como o selo da carne no açougue livre de contaminação e, com procedência segura, a carne limpa, uma espécie de titulo de nobreza (embora bem burguês) dos tempos atuais.
Não importa toda soma de privações e humilhações que a pessoa por ventura possa ter passado; o que importa é que ela rompeu a barreira do subdesenvolvimento, e esteve entre os “protagonistas do planeta”, nós Tupi-nagôs da terrinha ouvimos seus relatos, quando voltam, entusiasmados e ficamos cheios de vontades estrangeiras.
 Sem que em momento algum nenhuma sombra de dúvida nos leve a duvidar ou contestar, daquilo que nos esta sendo relatado.
As horas de diferença, a luminosidade dos dias, a escuridão da noite, o frio, o doce o salgado tudo tão próprio e especifico, por mais que tanto contem é difícil imaginar, e esse estranhamento acaba redimindo muitos dos nossos a uma condição de demência eufórica, onde até compreendemos o que esta sendo descrito, mais teimamos em admitir que isso não seja possível. 
Como se compartilhássemos uma vertigem após,tanto tempo dentro de um grande parque de diversões, passar-se por todos os brinquedos.
E talvez fosse dessa maneira que eu me encontrava ouvindo a conversa daquelas duas bonitas da mesa ao lado, uma de tez clara e lisos cabelos castanhos e a outra de cachos sublimes,olhos claros e pele mulata. Certo entorpecimento me aplacou. 
Queria saber quem foram e o que fizeram nas terras gringas. Haveriam amado mais os homens, eram  amigas ou namoradas? Tudo me instigava a curiosidade,eu não iria chegar nelas e interromper toda aquela cumplicidade não, tinha esse direito.
Mas por mais respeito que reservava, não posso deixar de admitir que também estava tomado por  um sentimento perverso, que me obrigava a buscar a descoberta de algum segredinho, alguma safadezazinha  gostosa, ou de nada teria adiantado todo esforço em silenciar-me para ouvir estranhas; nem mesmo o esforço delas de terem se deslocado várias horas de avião, para serem incógnitas por anos em outro país, onde talvez tenham encontrado sua verdadeira vocação, de loucas, taradas  quem sabe até de assexuadas.
Aquilo tudo já me enfastiava e precisava de respostas objetivas, foi aí que o acaso conspirou a meu favor e ouvi o melhor comentário desde o começo desta jornada:
-No inicio tinha muito nojo, o homem brasileiro não te pede isso nunca.
(Amiga)- Machismo sul americano, pura fachada por que eles também gostam.
-É olhando dessa forma você tá certa. Hoje eu nem ligo.
-Eu nem me lembro (riem).
-Quando é que a gente imagina que sai daqui pra morar no país rico, e que pra manter o namorado quem aprender...
-A chupar o cú deles.
-(As duas)Há há há há há há ...
Fiquei um pouco constrangido e assustado, não por recato ou pudor, mas por perceber o quanto eu que me achava tão experimentado, era tão ingênuo perante algumas situações, e ao mesmo tempo começei a rir muito lembrando de todas as minhas conhecidas e amigas que casaram-se com gringos como se isso fosse a única possibilidade de redenção de suas vidas.

                                                                                         
                                                       Pedrão Guimarães