quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Verdadeiras mentiras


Verdadeiras mentiras    (Procure saber)...  
Sua jornada começa na passagem dos setenta para os

 oitenta, sim, sentiu uma necessidade gigantesca de ir 

embora.

 Aquela pequena cidade no sertão nordestino havia se

 tornado não mais o berço de toda sua cultura e formação
 de valores; mas um sítio de opressão e iniqüidade.




Com a venda da moto, que já lhe havia causado acidentes e
 machucados pegou um dinheiro pra chegar até Brasília.
 Onde o irmão mais velho não quis hospedá-lo obrigando
 esse adolescente a retornar pra casa dos pais.

Ele  por sua vez engana o irmão e ao invés da passagem de
 volta para o interior cearense, compra outra pra São Paulo e
 segue este seu destino.

 Quando alcança a fria, cinza e sombria São Paulo paga 
uma vaga numa das pensões dos Campos Elíseos (região
 da antiga e demolida rodoviária velha) triste e atual 
cracolândia.

Na época que Jailton chegou não existia o crack nem a 
Sida (AIDS) que não havia ainda sido trazida, pelo menos em grande escala, para nosso país.

O muro de Berlim estava em pé, a União soviética reinava 
soberana no lado leste, os militares no Brasil proibiam certos hábitos e assuntos.

A região onde Jailton “escolheu morar” ficava no meio dos estúdios de cinema erótico, erótico sim! Pois a pornografia como produção interna (estava proibida ainda pelos generais).

Ele curioso e esforçado foi fazendo todo tipo de trabalho braçal. Até conseguir emprego num teatro lá da boca do cinema, foi potencializando dotes artísticos  descobrindo habilidades com as mãos para desenho e modelagem.

Ganhava também um a mais na época de carnaval ajudando nos barracões de escola de samba fazendo carros alegóricos e fantasias.

Com o afrouxamento da tirania-ditadura militar surge um novo segmento de mercado no bairro do cinema erótico, o teatro de sexo explícito, como uma epidemia colorida doce de sonhos em noite de meia estação.

 Nosso amigo então é convidado a emprestar seu talento aos “artistas fodedores” que têm seu corpos besuntados e pintados todas as tardes e noites para transarem pra grandes plateias sob gritos, gemidos e uivos de aclamação.


O Brasil estava mudando o mundo estava mudando, havia mais otimismo naquelas salas; do que nos comícios das “diretas já”, que nas manifestações do sindicato solidariedade da polônia e até por que não dizer; mais entusiasmo eufórico naquelas salas do que as violentas passeatas contra o apartheid de Johanesburgo.

Naquele momento o mundo de Jailton parecia ter atingido a sua plenitude, a infância sofrida do sertão estava distante, a cidade grande havia lhe tornado artista. Preparava os corpos para o sexo diário.

Coisa que lhe sustentava com certo conforto e  possibilidades,  tinha como até enviar algum dinheirinho a cada três meses para sua mãe.

O ambiente de trabalho era mais divertido que a Disneylândia, grande profusão de xoxotas úmidas e pauzões duros de lá pra cá de cá pra lá, realmente, ele vivia o que nas suas orações mais secretas houvera pedido a deus.

Esse momento foi tão importante em sua vida que até hoje nutre um desejo quase canibal uma antropofagia de querer transar com todas as pessoas que vê pela frente (principalmente os homens). Existe um brilho nos seus olhos e uma agudez nas mesmas sobrancelhas como da ponta da peixeira de um cabra, que chega até assustar os desavisados, mas nem por isso passível de ser classificada como desamor ou depravação.

Sua capacidade de amar é fome, seus desejos estão na eminência da mastigação.

Com dentes sempre afiados e prontos ao exercício de provar um pedaço novo de carne. Afinal de contas! O que é que tem? Querer amar tanto?

O legado das grandes religiões não diz: Amai-vos uns aos outros?

Um dia desses! Ele de tristeza transbordou.

Confessando a um amigo confidente, que apesar de toda essa necessidade de vida e gula ancestral. Ainda sofre com o fato de o pai ter lhe mandado embora de casa, quando flagrou ele com relações intimas com um irmão mais velho, e sofria não só por isso.

 Lembrou também de toda dor sentida no período que foi contra regra no teatro pornô; lavava sungas, pintava os corpos das mulheres, lambuzava os corpos dos varões com óleos, para um maior desempenho destes senhores que se excitavam na sua frente nas coxias, entrando em cena de pau duro sem nunca  deixarem ele dar uma usufruída, por menor que fossem em seus sexos.

 Essa tortura lhe feriu mais do que se tivesse sido torturado nos porões da ditadura que também se encontravam no mesmo bairro.

 Embora ninguém comentasse e muitos até nem soubessem.


Foi num porão bem próximo ao teatro onde Jailton trabalhava que caudilhos esquerdistas padeceram sob tortura, enquanto a cantora Gretchen era apresentada ao Brasil como rainha do rebolado, silenciando seus gemidos de dor e contestação com seus gemidos de lascivia e gozo.


Jailton hoje talvez tenha superado a tortura da qual foi vítima no final da ditadura brasileira; embora preferisse ver a “dita dura” sofreu com a “dita mole”; vivia e trabalhava no bairro onde a polícia política torturava os insurgentes teve sua dor maculada a outra forma de tortura. Pra ele mais cruel ainda.O não acesso as carnes que preparava no teatro pornô; mas aprendeu a perdoar.

Conseguiu atingir seu objetivo, é um artista famoso hoje, contrário as biografias não autorizadas. Quando questionado a esse respeito, indaga com uma única questão: Você no meu lugar deixaria?                                       



                                         Pedrão Guimarães

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Manifesto: Sunga branca sem forro (O inicio)

Manifesto: Sunga branca sem forro (O inicio)     


Realmente fomos derrotados pelas máquinas! Como nos filmes do Shwazeneger; as tecnologias caminham à passos longos e nós seus inventores e usuários retrocedemos à saltos ainda maiores.
Fiquei duas horas hoje procurando uma loja no centro de São Paulo que vendesse sunga.
 A maioria delas não mais vende esse artigo, pois a “homarada” passou a ter vergonha desse item masculino (tornou-se coisa de viado).
Quando banham-se em águas poluídas ou límpidas o fazem com bermudões (coisa de sujeito homem) na galeria do rock muita roupa preta, na galeria do rap aquelas rouponas largas dos guetos norte-americanos.
 Não dá pra saber qual dos dois estilos é mais dessexualizado e insipido.
Então perguntava-me: O que é mais imoral? Matar milhares no videogame, Assistir o Datena, o João Kleber, o pânico, Marcelo Rezende ou usar uma sunga numa praia ou piscina.
Algum pastor levantou seu cajado contra as sungas? Sim por que hoje em dia com tantos fundamentalismos pode ser até que as religiões estejam proibindo o uso delas.
Curioso é que no MMA, sob a motivação da pancadaria bestializante os machos ficam com “sunguinhas gostosas” simulando “meia noves” nervosos, assistidos e idolatrados pelos tipos mais diferentes que a gente possa imaginar. Isso não é Viadice? Usar sunga sim!
É impressionante como a violência, nestes tempos que vivemos, excita mais do que o próprio sexo. Que Deus nos perdoe e seja misericordioso conosco. Amém!
...Eu sou aquele que te chamou lá na praia, pra jogar vôlei com o corpo besuntado de óleo e com uma sunga branca sem forro...(anônimo).

Pedrão Guimarães  

terça-feira, 1 de outubro de 2013

NEIDONA (FÁBRICA DE SABÃO)


                Neidona          
          
Pra que sofrer tanto se é possível florir
Viagra não é pastilha Neide! Candomblé não se faz só com uma  das mãos!
Isso já virou obsessão! Meu sexo não é corrimão!
Evite falar tanto sobre o assunto você  já esta ficando falada.
Poupe o motorista e os passageiros.
Não tire as pessoas do sério, isso já é loucura Neide.
Banheira de esperma só em chanchada pornô.
Quase ninguém consegue certas coisas!
Sem ofensas e principalmente agressão.
Você tem tamanho e pode ferir alguém .Controle-se Neide!
Isso já passou do limite  e não tem graça.
Uma pessoa com essa idade prestando-se a esse papel?
As pessoas estão olhando Neide. De tanto falar você esta ficando falada.
Não me obrigue a medidas extremas ainda te considero.
Viagra não é pastilha Neide! Candomblé não se faz só com uma das mãos! Isso já virou obsessão! Meu sexo não é corrimão!
Imagine só se você bebesse, Deus escreve certo com linhas tortas.
Entendo sua fome; Mas dentro do trem  as pessoas tem direito de não querer.
Saiba perdoar para ser perdoada. Amar não é fácil
Já pensou em fazer sabão? Sabão pode ser bom e te acalmar.
Sabão: É amar sem garantia de comer ou dar
Duas coisas tão elevadas.
Sabão pode ser amor sem condição de submissão.
Sabão, amor tão puro quanto irmãos.
O fraterno que amaina, acalanta e conforta.
"Sabueira" não Neide? 
"Sabueira" sim Neide.Te controla!
Ninguém tá  te suportando mais.
Internação involuntária! Vai ser isso a solução?
Abre fábrica de sabão para sua redenção.
Sabão é bom. Vai ser a salvação da humanidade.
Sabão. É amar sem garantia de comer ou dar
Duas coisas tão elevadas.
Sabão pode ser amor sem condição de submissão
Sabão, amor tão puro quanto irmãos
Viagra não é pastilha Neide! Candomblé não se faz só com uma das mãos! Isso já virou obsessão! Meu sexo não é corrimão!
Uma pessoa com essa idade prestando-se a esse papel?
Pedrão Guimarães

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

PANCADÃO ALEMÃO



PANCADÃO ALEMÃO                            (Para Fafi Prado)       
      

Ela desde muito cedo achava estranha seu segundo nome. Nome alemão que não era e não dizia respeito a ninguém da sua família. Mas conviveu com aquilo toda a sua infância e adolescência, mandada para colégio interno católico sentia a falta de algo que identificava muito bem.
Aquele ambiente repleto de mulheres se tornava um pouco menos tristonho quando alguma irmã ou aluna tinha acesso de nervos e ela podia correr até a cozinha para providencialmente trazer um copo de água com açúcar à flagelada.
 Mostrando assim sua disponibilidade e gentileza que sabia ter herdado de sua família, que embora brigassem “às vezes” falando alto, eram provenientes do sul da Itália, sem nunca terem negado (apesar de toda carolice mediterrânea) algumas idas a certo terreiro de umbanda logo ali depois da Mooca.
Fato que ao se tornar mais constante os familiarizou a tantos vizinhos negros e nordestinos que nunca haviam até então notado.
Lívia Guertruda, sim era esse seu nome, além de buscar água com açúcar para as descontroladas, apreciava muito também momentos em que algo quebrava dentro do colégio, pois vinham técnicos consertar o defeito. E eram homens.
 Na sua doce inocência pensava: Homem parece que resolve qualquer problema e não precisa sentar pra fazer xixi(embora os pelos lhe dessem um certo asco) mesmo assim Deus havia sido mais generoso com eles. Esse pensamento teria que ser guardado a sete chaves, não confidenciaria isso a nenhuma freira ou amiga dali.
Com o passar do tempo começou a questionar certas coisas: as vestes, os dogmas católicos, a não presença de meninos na escola e a virgindade de Maria. Como engravidar sem penetração? Era excelente aluna de biologia!
Depois do seu primeiro menstruo revoltou-se, e foi a música que a amparou, quando visitava a família nos finais de semana conseguia com os vizinhos fitas k7 com rock inglês, samba-rock, forrozinhos maneiros ritmos que tornavam sua estadia mais suportável naquele circo de horrores onde vivia e se educava.
Emancipada foi estudar dança contemporânea com um papa desta modalidade aqui no Brasil. Alemão enlouquecido que levava seus alunos ao extremo de radicalismos e experimentações. Numa dessas aulas foi indagada por seu mestre sobre seu nome. Lívia Guertruda. Havia alguma descendência germânica?
Ela, no entanto sem saber a explicação da configuração desta emblemática nomenclatura, pela primeira vez pergunta a sua mãe o porquê desta escolha e ouve a resposta que transformou tudo que veio da aí pra frente.
Sua mãe revela que Guertruda, não vem de nenhum resgate de referência ou origem familiar; mas simplesmente pelo fato dela admirar muito uma freira alemã, quando Lívia nasceu, que se chamava: Guertruda e, daí o nome em homenagem a essa amiga.
A moça quase teve um colapso, foi ela quem precisou de água com açúcar. Lembrou-se de todas as privações que passou naquele colégio de freiras e de como as vezes lhe incomodava certo temperamento sistemático e normativo que acreditava ser herdado, e o tanto atrapalhador isso era nas suas experiências mais radicais com a dança contemporânea.
Saiu andando enfurecida por dias sem falar com a família, precisava se isolar e viver só a dor de suas reflexões e com capacidade de superação que só tem os fortes, hoje, tornou-se das mais requisitadas  funkeira inicialmente  clamada como Irmã Guertruda, mas com o tempo renomeou-se de “Mana Guerta”. Ameaçando todas as mulheres frutas até o atual momento.


Gervásio Pústula

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

GRUTAS E GRETAS




                                                                     


          Ontem quando cheguei ao trabalho, encontrei Rô que me disse que esta fazendo meditação em um centro Budista e aulas de popoarismo. Lembrei-me Grê!
          Por onde andaria essa amiga de infância a tanto desaparecida?
       Vinda de uma linhagem de mulheres transgressoras e iconoclastas lembro-me do ginásio quando ela já jogava bola no time dos meninos sem camisa. Parecia até saber que o tempo lhe serviria de seios fartos e que em pouco tempo não poderia mais se dar essa liberdade.
       Um dia desses um amigo conjeturando  disse-me: Como é duro pra mulheres não poderem andar sem camisa num dia de calor. Os homens adoram o privilégio desta liberdade de poder exibir seus peitorais, mesmo com barrigas, cicatrizes pelos e, toda a sorte de formas abdominais não tão belas assim quando se despem da cintura pra cima em um dia quente, gozam um tipo de plenitude masculina. Até as travestis quando exibem suas “tetas” estão vivendo o pouco do masculino que herdaram  por nascerem homem.
         Grê, no entanto depois dos treze, nunca mais pode exibir seu abdômen (pelo menos em público), passou obrigatoriamente a submeter-se aquele insuportável “amarrio” que os Franceses batizaram de sutien; mas nem por isso deixou de atrever-se.
          Menina louca inconsequente, e  com potencial de amar, maior que muitas coisas.
           Nunca soubemos qual sexo ela experimentou primeiro (talvez nem ela se lembre). Desde bem cedo tinha inclinação maior para o sexo das mulheres, embora os homens também lhe suscitassem curiosidades&prazeres sem medo algum.
        Afirmava que quando tinha intimidade com homem sentia-se, uma espécie de “viadinho” sem preguiça alguma, sensação que a enlouquecia de prazer e superação de sua própria condição feminina.
        Filha caçula de uma casa onde a mãe embora trabalhadora e católica; Não conseguiu impedir que suas três filhas mais velhas -irmãs de Grê- trabalhassem com prostituição; Coisa que causava espanto e compaixão aos vizinhos que comentavam que só podia ser castigo uma mãe tão séria e devotada com filhas tão destrambelhadas e lascivas.                         
               Grê a raspa do tacho, superou a todas! Sua versatilidade sexual a fez desbravar fronteiras, abrindo caminhos inimagináveis.
              Nas rodas de troca troca era a única menina presente entre os moleques, que se sentiam bem à vontade com ela. Com quinze seduziu uma mulher casada quase dez anos mais velha tiveram um romance sublime e não por isso menos tórrido as brigas por ciúmes acabavam em pancadaria embora se amassem cada vez mais.
             Quando ameaçadas de denúncia em delegacia da mulher, conselho tutelar ou coisa assim correlata fugiram para cidade maior onde passaram a viver tranquilamente como tia e sobrinha sem que a família da menor reivindicasse sua volta pra casa. Os mais maldosos chegavam a sugerir que a mãe havia vendido Grê para sua amante, coisa que nunca se confirmou.
             Encontrei Grê alguns anos depois numa cidade maior no caminho pra São Paulo, além de fumar e beber fazia aulas de canto, curtia cinema, falava em literatura e vivia com outra mulher, uma fulana intelectual burguesa que tinha morado nos Estados Unidos, foi aí que saquei a vocação de Grê ao alpinismo social, ela iria chegar longe ou se dar muito mal.
                 Anos depois soube que havia sido presa voltando do Mato Grosso com 5 quilos de maconha e 1 quilo de coca, fiquei triste e preocupado, meu medo era que ela virasse evangélica na cadeia; imagina perder um valor desses?  Soube em seguida que saiu por bom comportamento e hoje tem uma academia onde se ensina dança do ventre e popoarismo. Disseram-me também que está casada com uma mulher ainda mais rica que a anterior, morando parece-me que no Rio ou em Belo Horizonte.
                Saudações querida “Grelaine” tenho saudades sou seu amigo e nunca te considerei puta, como tantas pessoas tentaram me convencer. Quando estiver por aqui apareça em casa.

                         Pedro Guimarães


sexta-feira, 28 de junho de 2013

MERCOSUL

Mercosul


        È bem verdade que tinha o calcanhar vermelho, e não havia coisa que mais a desagradava na sua vaidade de menina nova.
          Mas como escapar desta condição vivendo as margens do rio paranapanema, a terra já era de um vermelho tão grave como as primeiras fazendas do Paraná que podiam ser vistas na margem oposta do rio.                   
       Cresceu ali menina de corpo frágil e cutis mestiça cabocla, de tons marrons e cabelo indígena, sem nunca ter se contentado com pouco desde muito cedo ,por volta dos doze, perdeu o medo do membro masculino ereto.
       Antes dos dezessete sentiu que embora de estrutura física e óssea pequena possuía uma tal força biológica que não a fazia sentir dor quando penetrada por pau grande, aliás, hoje é uma das mais fervorosas defensoras da tese de que o pau grande não machuca tanto quanto o pequeno.
        Logo percebeu a necessidade de usar calça lee, tênis all star e, outras coisas assim tão importantes para o adolescente neste mundo de consumo.
         Vivia com os pais em uma pequena cidade de região fronteiriça e embora tivesse começado sua vida sexual de maneira precoce, era obediente a família e trabalhadora ajudava no orçamento familiar trabalhando de doméstica na casa de uma velha senhora e na época da safra de mandioca por muitas vezes pegava o caminhão da bóia fria, e ia para as plantações defender algum dinheiro na colheita.
        Admirava o estilo das meninas filhas das casas abastadas que haviam saído para estudar em cidades grandes. Essas mesmas quando em visita a cidade natal demonstravam hábitos pouco ortodoxos fumavam, bebiam, dirigiam dormiam com namorados. E mesmo não dominando um linguajar culto nem conceitos complexos, tinha uma certeza íntima de não ter nada de inferior relacionado as tais moças e sabia que em algum momento se equivaleria a elas por mais distante que fossem suas realidades.
            Nicinha, era este seu nome! Tinha convictos desejos de transformação da sua própria vida e sabia que tudo era só uma questão de tempo.
             E realmente foi! Por volta dos dezessete foi para a estrada com um conhecido seu assim de estilo hippie, onde tomou carona pela primeira vez  até uma cidade maior a 100 Km dali, percebendo não precisar de dinheiro para viajar, tornará-se mais segura a cerca da mudança, passando a partir deste momento a inventar para a família, o recebimento de convites para trabalho em cidades vizinhas coisa de lhe isentava de maiores justificativas para se aventurar pelas estradas à procura de aventuras sexuais em postos de gasolina, ferrovias e rodoviárias que ampliava cada vez mais seu conhecimento sobre a geografia e  homens.
           Também lhe rendendo dinheiro, coisa que silenciava  perguntas  familiares sobre o paradeiro desta jovem mulher, Não precisou trabalhar mais na roça e podia pela primeira vez comprar roupas, sapatos e maquilagem produtos há tão pouco tempo sonhados como inatingíveis.
            E talvez tenha sido por esta razão que nesse período pela primeira vez sentou-se na mesa de garotas ricas(universitárias) de sua cidade sem que isso não lhe trouxesse nunhum tipo de embaraço , por não saber se portar nem falar com a mesma fluidez das outras. 
Foi numa dessas mesas apresentada a Tadeu, rapaz estudante de primeiro ano de biologia recém chegado do mato grosso que embora tivesse sua graça e beleza sofria de baixa estima sexual. Numa dessas noites quentes Nicinha e Tadeu tiveram horas ininterruptas de sexo voraz e ritualístico, que pode ser comparado a ancestralidade de mitos, impudicos e famintos como poucos conseguem atingir.
              O rapaz confessou que nunca tinha tido experiência com mulher, somente com galinhas e éguas na fazenda onde houvera sido criado, ela sentiu-se mestra de catedrática responsabilidade sobre um discípulo que carregará conhecimentos por ela  ali transmitidos por todo uma vida.
              Responsável assim pelo êxito ou fracasso da vida sexual daquele macho para todo o sempre, uma condição quase de santa sobre aquele homem que nascia para o mundo da carne dividindo intimidades com ela, tão grandiosa como um pastor que possibilitou a um crente sua primeira "tomada" de pentecostes.
              Passaram a morar juntos dias após terem se provado, ele pleno de felicidade por ter encontrado uma tarada matriarcal que o educava em todos os assuntos da carne e ela plena, por ter sido tomada por um moço de padrões tão satisfatórios e desejados, mais sofisticado que todos os outros homens que ela havia tido e que a reverenciava como uma maestra.
               Situação extremamente confortável para qualquer mulher, vivendo com homem. A relação transcorreu harmoniosa e faminta no primeiro ano. 
                Mas Nicinha tragicamente foi percebendo que o seu desejo não se maculava a insistência de saciar-se com  um só homem.
                justamente agora que a sua família estava tranqüila com a existência deste “casamento” com um jovem estudante de classe média, ela volta a sentir falta da sua vida pregressa.
               O desejo de mastigar vários homens, era a única coisa vital para que seus lábios internos não secassem e se mantivessem com aquela umidade tão importante a estas partes.
               Volta a tomar carona nas estradas da região agora mente para Tadeu, com um catálogo de lingerie e bijuterias diz sair para visitar clientes amigas, podendo assim se entregar a outros em puteiros e estradas. Aos poucos vai sendo acometida de um medo cada vez mais terrível de ser vista ou reconhecida por alguém  próximo a sua família ou a Tadeu. Traçando assim curiosamente uma rota contrária ao eixo São Paulo-Rio, dirigindo-se cada vez aos estados do sul a procura deste seu trabalho-rito.     
                Ùnica coisa que a faz mui feliz, sem não lhe impor alto grau de dificuldade para enganar Tadeu.
                Tadeu por sua vez, começa a perceber o que realmente era impossível de não ser notado; e por sei lá qual motivo, talvez cumplicidade ou gratidão aceita. Mas sempre ansioso aguarda pela compensação que Nicinha sempre propicia . Ele em seu silêncio aceita  pensar em nicinha se deitando com outros coisa que na sua individualidade o excita sempre cheio de gratidão.
               Não indaga, questiona ou discute suas ausências. Também sabia quenunca mais fora o mesmo Nicinha havia lhe ungido de algum tipo de energia sexual que fazia com que mulheres e similares ficassem enlouquecidas de desejo sexual pelo rapaz, fato que nunca o deixava só, quando nicinha sumia por dias para vender seus produtos no sul.       
               Embora houvesse essa relação tolerante, também se desenvolveu no casal uma passionalidade incomensurável, seriam capazes de matar um ao outro no caso de um flagrante. Assim tanto ela quanto ele tomavam suas precauções para que um não visse o outro transando outras pessoas, era esse o ponto de equilíbrio na relação deste par apaixonado.
                Em quatro anos de relacionamento tiveram um casal de filhos. O que para maioria dos outros casais seria o reforço do vinculo matrimonial, mesmo com o colapso do amor; ali naquele caso surtiu uma reação curiosa, os cuidados com as crianças atrapalhavam o exercício do sexo como eles estavam habituados a fazer, e a possibilidade de serem arrebatados por um espírito de apatia, levou os dois a terem o mesmo pensamento: Fugir. 
               Sim! Fugir para onde não fossem conhecidos para continuarem trilhando experiências, pois, a vida só tem sentido se a carne é saboreada, e essa máxima era comungada pelos dois.Pensavam e agiam de forma muito parecida no que diz respeito a este elemento amavam suas crianças, mas se sentiam também crianças, brincando numa ciranda onde seus filhos ainda não poderiam participar e sendo assim os atrapalhariam.
               Foi então que ela empreendedora como sempre foi foge antes, para o interior de Santa Catarina, acolhida em um puteiro, deixando Tadeu e as crianças no interior de São Paulo.
              Nas primeiras semanas foi tão feliz, pela primeira vez estava morando sozinha, sim por que saiu da casa da família para morar com Tadeu, nunca tivera tanta liberdade, tinha uma boa relação com as outras putas, tratou logo de mudar de nome de guerra. Se anteriormente quando se apresentava para o trabalho se dizia Gabí, agora passa a se apresentar como Monique.
             A vida no sul  lhe imprimia reconhecimento e notoriedade, esse furor uterina, essa fome ancestral faz com que sua fama corresse até o extremo do cone, atende clientes uruguaios, Argentinos Gaúchos de todos os tipos, seu talento nato com a mastigação dos lábios inferiores em pouco tempo à torna conhecida, e o medo de encontrar conterrâneos a faz se embrenhar cada vez mais em direção ao extremo sul.
             No Rio grande do sul percebeu que não seria difícil aprender o sotaque castelhano e a convite de uma trava do Paraná vai para Argentina trabalhar em um cassino por alguns dias, fica fascinada com a quantidade de droga e álcool ingeridos,  com las noches calientes e  muita gente de olhos claros.
           Sentiu que havia encontrado seu eldorado, não conseguia se imaginar vivendo mais em outro lugar. Teve uma sensação de liberdade tão grande, podia ali ser mulher, menina, estrangeira, mãe, puta tudo que quisesse!
          Só uma coisa que a magoava extremamente!A lembrança do Brasil onde ouvira muitos comentários jocosos masculinos sobre sua disposição e falta de preguiça para o sexo.
           Contraditoriamente  Argentinos e Uruguaios respeitavam esse seu afã  como sua principal qualidade.
           Estava se sentindo tão feliz em seu novo país que chegava até ter medo, de que essa felicidade toda pudesse acabar de forma trágica, por que todo mundo sabe que os momentos difíceis são mais duradouros.
            Sentia saudade das crianças e às vezes sonhava com  o sexo de Tadeu, depois de algumas semanas já bem instalada próxima a Recoleta em Buenos Aires, ligou para falar com as crianças, descobriu que Tadeu havia entregado as crianças a seus pais e ido embora para São Paulo, por um momento sentiu uma certa culpa, mas autoconfortou-se com a sensação de que: Grandes decisões exigem sacrifícios, não haveria o que não seria cicatrizado com dinheiro, ela enviaria dinheiro, havia sido assim com o pai ,  com a mãe,  e agora seria com os filhos.
             Todos se silenciavam com relação a seu estilo de vida; pela grana que ela nunca deixou enviar.         
              Numa noite quente conseguira uma boa grana, tinha feito dois programas bem pagos, andava descontraída quando foi parada, pega polícia Argentina.
             Ainda não havia o pacto entre os governos do Brasil e da Argentina que hoje libera o trânsito livre dos dois povos pelos dois países, sendo presa como clandestina.
             Na delegacia percebeu que teria que sair a qualquer custo dali que poderia se dar muito mal. Então usou suas armas. Se entregou a todos os homens que estavam no plantão," dezesseis".
            Saiu ao raiar do dia voltou para casa para tomar um banho e dormir tinha uma sensação de ter sido violentada, mas ao mesmo tempo um sentimento de alegria e realização que a tornava mais potente e feliz do que a maioria das mulheres da face da terra, e esta sensação não foi só  dela.
            Um certo investigador de nome Estevam que participou deste banquete, se sentiu de certa forma mexido e perguntou: Quem é aquela puta?
             Passando a procura-la insistentemente nas ruas e puteiros até que dias passaram para que  esta nova versão de Romeu e Julieta pudesse ter ínicio. Encontraram-se e começaram um romance visceral e avassalador ele pode lhe oferecer segurança para que ela trabalhe na Argentina em paz, e ela por sua vez retribui com fidelidade de gozos e pensamentos desse amor, amor proibido pelas margens opostas que trilham : Ele casado, judeu e policial; ela: brasileira, ilegal e puta.
            O mais bonito é que esses problemas longe de serem obstáculos foram argamassa para que esse amor acontecesse.
             São amantes há mais dez anos, ele achaca e mata, ela se prostitui e cafetina, ela colocou quase dois litros de silicone nos peitos, hoje pinta o cabelo de loiro e é conhecida de Buenos Aires a Punta Del Leste como Rúbia Brasilienga , uma das maiores fornecedoras de meninas adolescentes e travestis brasileiras no mercado Argentino e Uruguaio.
             Nicinha há pouco tempo esteve forçosamente no Brasil para o enterro de sua avó, não queria vir mais não teve outra alternativa, gastou suas economias com o enterro e reformando casa de parentes, sem dinheiro foi obrigada a permanecer por alguns meses, isso que poderia se transformar em elemento de dor e sofrimento foi o que a motivou  trabalhar para levantar uma grana para poder voltar ao cone sul, nunca teve preguiça ou medo do trabalho e como da primeira vez vendendo lingirie, bijuterias, lavando roupa de cama de motel e de puteiro, com determinação e força como sempre foi seu estilo, Monique levantou seu dinheiro para voltar para Estevam na sua doce Argentina.

                                                                        Pedrão Guimarães

terça-feira, 28 de maio de 2013

QUE VENHA O FRIO.


                                                                         

                     Que venha o frio



O que me contam pode tornar-se um conto

Quem mente aumenta o ponto

Quem sente sucumbe-se um monte

E o conto pode não te dizer nada como antes

E nossa vida caminha com antigas dores e sobressaltos

Continuo sofrendo a recorrência de um sonho

Onde fujo pr’um lugar que não vislumbro/distante

Com um percurso cheio de perdas por estradas velhas conhecidas 

que se apresentam redesenhadas

Como se tivesse voltando no tempo para antigos medos

Será que um dia acordaremos desse pesadelo,

Que comungamos com a humanidade?

Nesse momento queria que pulsões menos subjetivas me 

redimissem da dor e do desencanto

É sempre assim quando o frio chega, tomado de nostalgias que não 

me lembro.

 E de uma tristeza asfixiante que me parcimônia por 

alguns poucos dias.

Pedrão Guimarães

sexta-feira, 26 de abril de 2013


SANTIDADE   


O exército norte americano teve êxito ao capturar Bin Laden, por ter distribuído viagra no deserto do Paquistão em troca da delação. José Clóvis Alves (Físico)



Teozinho havia assumido uma postura mais aguerrida, começava aos poucos demonstrar socialmente o que por tanto tempo não se estancou de tão escondido que estava.

 Se antes, se exibia com suas noivas, namoradas, amantes e amigas sempre mulheres intelectualizadas, educadas com refinamento burguês ocidental de pele alva, cabelos lisos; pela primeira vez jantava em um restaurante de bairro sofisticado da cidade com uma “mulata” exuberante, porém taciturna.

 Mas qual a relevância disso? Talvez consiga retornar mais tarde se não me perder nas emoções que atravessarei até a conclusão dessa jornada arrebatadoramente passível de desvios e principalmente devaneios.

Houve uma mulher na cristandade romana do século quatro após cristo, que casou-se duas vezes, divorciou-se do primeiro marido em detrimento do segundo.

Após a morte do segundo marido tornou-se ainda mais rica, porém algo no fundo do vazio silencioso de suas grutas interiores cobrava-lhe mais. Influenciada por santos e ritos católicos foi descobrindo uma devoção à caridade e um apego, quase silencioso, aos flagelos, deficiências e virulências que ao mesmo tempo que debilitam; trazem pra perto algum tipo de santidade, pois neste estado a fragilidade nos aproxima de diálogos com Deus nosso criador em quase pé de igualdade. Fabíola chegou até a viajar para palestina no intuito de cristianizar infiéis.

O estado morfético te faz quase um fantasma em vida, gozando da dubiedade da vida e morte num só ser.
Uma espécie de semi-divindade para nossa cristandade. Talvez tenha sido isso que despertou nessa senhora compaixão e ternura aos doentes e necessitados. Depois de rica, divorciada e viúva tornou-se caridosa. Por alguma razão interior e perturbadora distribuiu seus bens e emergiu numa peregrinação principalmente entre incapazes e doentes que por coincidência, sugestão ou “poderes xanânicos” participou de muitas prováveis e improváveis curas sendo elevada em pouco tempo após sua morte no fim dos anos 300 a condição de santa associada a hospitais e cuidados com enfermos.

Santa Fabíola de Roma, protetora dos traídos no amor, dos amores sôfregos, das vítimas de abusos sexuais e protetora das enfermeiras.

Tão belo é saber que as enfermeiras que cumprem função tão nobre e elevada; por mais que sejam mal faladas por tant@s, (desde que não estejam num leito de enfermidades) foram agraciadas com uma santa que lhe reserva proteção e guarida, elas que são ( a meu ver) a vanguarda, principalmente nestes tempos de guerra que vivemos.

No meu ponto de vista são todas Fabíolas, ousadas, devotadas e desapegadas no que diz respeito a sua própria exposição com o afã de curar outros. Tão ou mais nobres até que Francisco (o santo) quando se despe indo embora de casa nu.

Transporto-me agora para aquele jantar no restaurante do bairro grã-fino com Teozinho e sua nova namorada a mulata exuberante, que quase não fala mas que num momento, por alguma razão banal pergunto-lhe seu nome, coisa que leva  a parceira de Teozinho me fitar os olhos e responder: Fabiola!
O tom de sua voz tem um agudo aveludado de grave quase masculino, percebo que existe algo mais do que o aparente e dessa forma começo a observá-la com maior meticulosidade e acabo percebendo o que ninguém dos outras participes da mesa não notaram.

Sim! Fabíola a namoradinha de Teozinho é uma travesti, nossos olhos comunicaram-se. Ela também percebeu que eu a reconheci, mas nem eu nem ela mudamos nossa conduta, tudo transcorreu dentro da normalidade de um jantar comportado e pequeno burguês, Nesse momento lembrei-me de Santa Fabíola, seria ela a protetora de Teozinho? 
Ou a própria Fabíola de Roma.
 Como se socorrem e complementam-se na intimidade do sexo? Tudo passou pela minha cabeça sem que nenhum tipo de resposta me acontecesse.

Teozinho de certo encontrou sua santa, capaz de lhe aliviar dores e enfermidades. Me parece tão feliz quando os vejo. Aliás, até hoje eu os encontro, e a maioria dos nossos amigos já sabem ou se atentaram para esta predileção de Teozinho por travestis negras ou amazônicas. Num desses nossos encontros, tentando ser educado, perguntei a ele em relação a sua companheira:

Eu-Tão feminina e natural ela, não? É operada?
ELE- NÃO! SÓ GOSTO DE MULHER INTEIRA.

PEDRÃO GUIMARÃES

segunda-feira, 4 de março de 2013

CACHORRIO





           Cachorrio


 
(AGUARDEM, FUTURA INSTALAÇÃO A PARTIR DESTE TEXTO E DESENHO NO CENTRO DE  SP)
                                                          
               Pior que perambular pelo mundo, ruas e pessoas sem lugar certeiro ou ponto de chegada. 
È ser um cão sarnento, que vagabundamente tornou-se incapaz de despertar qualquer tipo de compaixão, mesmo no mais desprezível dos seres viventes. Sendo assim indigente de sua própria condição de melhor amigo do homem (da mulher, da criança ou de um simples vagabundo).
             Até ter um campo de visão aparentemente baixo, ver o mundo da perspectiva de um cão não me é humilhação nem restrição, não!
 Este ponto de vista, esta condição de nobreza me revela um mundo destravestido de seus artifícios e disfarces.
 E os cheiros são capazes de me responder muitas vezes antes que o próprio som, e é neste ponto que reside minha nobreza.
                   E como é bom ser escolhido por alguém para lhe demonstrar amor toda vez que nos reencontramos, para ser por esta pessoa alimentado, afagado e dessa forma poder lhe retribuir se irritando ou até mesmo brigando por ela certo da sua defesa e da manutenção da sua integridade.
    Mesmo que integridade não seja a coisa mais importante ao seu dono.
                  O lobo andou em bandos pelas matas, serras e planíces altivos e implacáveis apresando todo tipo de carne possível de ser degustada em banquetes insanos e assustadores, o que lhe rendeu a má fama de anjo da morte, besta fera, alma gêmea do diabo, satanás, coisa ruim ou simplesmente cão
 Onde esta o cão, O que ou quem é o cão? Qual a diferença entre o cão e o cachorro?
                   O engraçado nesta história toda é que quando indesejado, ou seja, quando tomado do meu espírito natural de não atender os comandos nem interesse de nenhum dono sou tratado como cão; mas por outra quando me entrego ao jogo da obidiência me deleito de seu afeto e me torno seu cachorro, até mesmo sua cachorra, pois cadela no Brasil tem um significado depreciativo até no tratamento com os animais.
                      Numas dessa tardes acompanhava meu dono num desses parques onde ele estende as mãos como Francisco e suplica pela caridade de impios. Lá soube através de um cão chinês que nas suas bandas, existe uma lenda que diz que o cachorro morre para renascer como gente.
 Vê se tem cabimento uma coisa dessas se tivermos que renascer que seja numa forma de vida mais limpa.
 Um outro cão, esse de um padre, contou-me que o celebre sermão de são Francisco de Assis foi feito num cair de tarde e na medida que as pessoas o deixaram falando sozinho ele se indignou e dirigiu suas palavras a corvos, cobras e urubus que ali se encontravam naquele mesmo instante, quando soube desta história retruquei com orgulho afirmando: Com certeza algum cachorro estava lá representando todos os cães neste momento tão sublime da cristandade.
                     Por que o amor tem que ser algo tão difícil? Embora veja muito amor entre seres humanos e animais, sou obrigado a reconhecer que nenhum amor me chama mais atenção que o amor de um cão e de um miserável, amar na pobreza isso é entrega incondicional, da outra forma seria fácil.
 Esse sim é amor fiel e forte, mais forte que voto de pobreza dos franciscanos, mais forte que a atração que os intelectuais de esquerda têm pelos pobres, mais forte do que todas as surras que a mulher de malandro precisa para continuar lhe amando, mais forte do qualquer evocação do pastor disposto a tirar o cão de seus concidadãos.
Se revelando nos dias atuais como uma grandiosa verdade que insiste em contrariar tudo que nos rodeia de terror e desencanto.
 O amor de um miserável pelo seu cão ou vice versa pode ser a maior demonstração da mais monstruosa forma de amor em tempos de caos e guerra.



Pedro Guimarães