sexta-feira, 25 de maio de 2018

Mamãe

Então mamãe!

- Por quê desde pequeno durmo pouco nas noites que me acalantava sacrificando-se?
Querendo se livrar do incomodo que me reservava com todo amor que te aprazia sem que suas culpas a torturassem com odores "galactósos"  uma necessidade gozosa de usufruir de um marido viajante que por mais provedor,"presente" constantemente era distante.
                                                           Estátua de Oswaldo Saiane

 Fui crescendo por mais que não entendesse falas e signos da perversidade adulta. 
 E dessa forma quando ouvia das suas vizinhas amigas as maravilhas dos outros maridos vizinhos mais presentes  que as enlouqueciam com sexo constante afirmativo e até insistente. Enquanto criança ninguém me explicava e principalmente não me explicavam nada.
 Não diziam às crianças; só falavam na frente delas como se elas fossem surdas e incapazes de compreender. E isso tem algo de bom!?!
 Resignava-se por sabe!r o quanto de amor teria no porvir da volta dos seus.
 Teve mais filhos do que todas as outras, que a infernizavam com seus relatos de cópulas diárias como troféus de casamentos.Perfeitos!?! 
Mantinha a certeza da fidelidade deste marido viajante, coisa que tinha certeza que as outras não tinham com os seus ali sedentários. 
Tinha uma certeza confiante cortante como lamina que aliviava sua espera.
 E sempre era recompensada com a volta do seu homem/marido com uma recompensa que só os paninhos milimetricamente cortados no saco atrás da porta do quarto casal  para enxugar sua xoxota do leite do marido após gemidos e gritos abafados pra não acordarem os meninos nos outros dois quartos ao lado, toda vez que ele voltava.
 Nunca sentiu cheiro de outra mulher nele. Realmente se sentia superior aos maldizeres das vizinhas que com homens em casa relatavam  pelos e cabelos estranhos nas cuecas e cheiros femininos das outras conjugues na hora de intimidades. 
Agradava esse marido que jurou fidelidade no altar. E olha que tentações pecaminosas passou e sobreviveu. Homens brancos e ricos percebendo sua destreza solitária domiciliar com os moleques, indecorosamente lhe propunham deleites gozosos em segredo ou mesmo até amasiamentos.
 Recusavas por mais que tais propostas lhe suscitassem fantasias, resistia.
 Sabia o dia em que seu paladino voltaria.
E esse acordo era de uma precisão de um relógio suíço.
Tinha sido doméstica na adolescência porém depois do casamento ele conseguiu mante-lá como dona de casa. Só cuidava dele e dos seis meninos, na vizinhança da pequena cidade eram a única família negra ali daquela rua onde só moravam gente clara e branca. Que traziam assim pra eles uma espécie de admiração misturada à uma compaixão brasileira,um racismo míope e obtuso.
Os meninos crescem. Nenhum se reclina ao crime, são educados, bonitos trabalham mas não entendem a necessidade de estudo. Olham isso como algo que não os pertencem, seus amigos de rua tornam-se engenheiros, advogados médicos e somem dali. Voltam no dia das mães pra visitas rápidas e efusivas onde comentam seus progressos e conquistas. O lugar assim poderia morrer dentro do que lhe foi determinado com sua rotina monótona; Mas o acaso é o Deus mais potente e perturbador.
Foi assim que um daqueles meninos da família negra comiserada e condescendente . Sei lá por qual motivo. foi convidado pra vender veneno agrícola pelas fazendas e cidades da região e depois de aprender a dirigir foi ampliando uma atuação que o levou pra cidades cada vez maiores onde o simples dormir ali e aqui, construíram curiosidades estupefatas que vão se explicando e descortinando entendimentos ainda mais perturbadores. 
Uma perturbação difícil de explicar algo que assombra e ilumina ao mesmo tempo.
 Uma alegria irracional que faz a razão anterior se tornar nada.  
Na medida que se afastou da família passou a conviver com gente intelectualizada nas cidades grandes e embora sem ter vivido universidades, aprendeu a pensar e falar como esses.
Por algum motivo difícil de se explicar ou entender voltou-se contra os venenos. 
Por mais estranho ainda, passou a defender divisão das terras para índios, negros e mestiços, depois de romper com seus antigos valores de origem resignada foi viver muito longe dos seus. Hoje soubemos que foi  assassinado no sul do Pará. Não acharam seus matadores; Mas virou nome de uma associação de direitos humanos da ONU. Que bom seria se ao invés de mártir vivesse o som de amores vividos, e que a vida fosse justa daquilo clamado como imparcial e sempre mentirosamente propagado.
Por quê o amor é tão difícil?                                                       Pedro Guimarães

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