quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Donde vim (ficção)

Havia uma criança negra, muito preta. Preta preta, como o glamour da noite sem estrelas.
 Ela não falava e não falou nada!
 Não falou nada. Mas viu tudo aquilo que você talvez não falasse.
Que talvez nunca diria!
Os incestos entre os aristocratas que a "criaram"!
A vida faz ou traz coisas.
Coisas que elevam sentidos de  convivências familiares.

 A família que a adotou. Moveu um carinho comedido e não resignou-se.
Depois de um tempo, diminuiu amores. Sei lá como explicar. (A vida nem sempre é boa - Herbert Viana)
 Colocou-a atrás de cozinhas.  Esfregando os banheiros donde as bundas alvas se sentam com conforto e segurança pro resto de suas vidas.
Ela então continuou a ser uma criança negra que de tão preta não tinha voz.

 Era mulher, desde o seu nascimento. Minha curiosidade é saber o que essa mina pensou e percebeu desde que nasceu. Olhou tudo que não pode ver.
 Essa família lhe ungiu de esperanças melhores. Ela com certezas,acreditou devotar amores redentores.
 Sua condição talvez a libertaria de uma contradição que traria sua vida sem maiores dores prováveis.
 Como pode ser bom não acreditar em tudo aquilo que nos aprisiona?
Ela lembra de uma infância rodeada daqueles amigos e amores acompanhantes de tudo tão lindo e livre.
 A vida porém lhe traiu! 
Faltou compartilhamentos, oportunidades e chegadas.
 Eu sou um idiota alegre, que regozijo-me até dos escárnios que me elevam. Evoé, axé Saravá. 
 Pedrão Guimarães.

Nenhum comentário:

Postar um comentário