Ontem quando
cheguei ao trabalho, encontrei Rô que me disse que esta fazendo meditação em um
centro Budista e aulas de popoarismo. Lembrei-me Grê!
Por onde andaria essa
amiga de infância a tanto desaparecida?
Vinda de uma linhagem de mulheres
transgressoras e iconoclastas lembro-me do ginásio quando ela já jogava bola no
time dos meninos sem camisa. Parecia até saber que o tempo lhe serviria de
seios fartos e que em pouco tempo não poderia mais se dar essa liberdade.
Um dia desses um amigo conjeturando
disse-me: Como é duro pra mulheres não poderem andar sem camisa num dia de calor.
Os homens adoram o privilégio desta liberdade de poder exibir seus peitorais,
mesmo com barrigas, cicatrizes pelos e, toda a sorte de formas abdominais não
tão belas assim quando se despem da cintura pra cima em um dia quente, gozam um
tipo de plenitude masculina. Até as travestis quando exibem suas “tetas” estão
vivendo o pouco do masculino que herdaram por nascerem homem.
Grê, no entanto depois
dos treze, nunca mais pode exibir seu abdômen (pelo menos em público), passou obrigatoriamente
a submeter-se aquele insuportável “amarrio” que os Franceses batizaram de sutien;
mas nem por isso deixou de atrever-se.
Menina louca inconsequente,
e com potencial de amar, maior que muitas coisas.
Nunca soubemos qual
sexo ela experimentou primeiro (talvez nem ela se lembre). Desde bem cedo tinha
inclinação maior para o sexo das mulheres, embora os homens também lhe suscitassem
curiosidades&prazeres sem medo algum.
Afirmava que quando tinha
intimidade com homem sentia-se, uma espécie de “viadinho” sem preguiça alguma,
sensação que a enlouquecia de prazer e superação de sua própria condição
feminina.
Filha caçula de uma casa onde
a mãe embora trabalhadora e católica; Não conseguiu impedir que suas três
filhas mais velhas -irmãs de Grê- trabalhassem com prostituição; Coisa que
causava espanto e compaixão aos vizinhos que comentavam que só podia ser
castigo uma mãe tão séria e devotada com filhas tão destrambelhadas e lascivas.
Grê a raspa do tacho, superou a todas! Sua versatilidade sexual a fez desbravar
fronteiras, abrindo caminhos inimagináveis.
Nas rodas de troca
troca era a única menina presente entre os moleques, que se sentiam bem à
vontade com ela. Com quinze seduziu uma mulher casada quase dez anos mais velha
tiveram um romance sublime e não por isso menos tórrido as brigas por ciúmes
acabavam em pancadaria embora se amassem cada vez mais.
Quando ameaçadas de
denúncia em delegacia da mulher, conselho tutelar ou coisa assim correlata
fugiram para cidade maior onde passaram a viver tranquilamente como tia e
sobrinha sem que a família da menor reivindicasse sua volta pra casa. Os mais
maldosos chegavam a sugerir que a mãe havia vendido Grê para sua amante, coisa
que nunca se confirmou.
Encontrei Grê alguns anos depois numa cidade
maior no caminho pra São Paulo, além de fumar e beber fazia aulas de canto,
curtia cinema, falava em literatura e vivia com outra mulher, uma fulana
intelectual burguesa que tinha morado nos Estados Unidos, foi aí que saquei a
vocação de Grê ao alpinismo social, ela iria chegar longe ou se dar muito mal.
Anos depois soube
que havia sido presa voltando do Mato Grosso com 5 quilos de maconha e 1 quilo
de coca, fiquei triste e preocupado, meu medo era que ela virasse evangélica na
cadeia; imagina perder um valor desses?
Soube em seguida que saiu por bom comportamento e hoje tem uma academia
onde se ensina dança do ventre e popoarismo. Disseram-me também que está casada com uma mulher
ainda mais rica que a anterior, morando parece-me que no Rio ou em Belo
Horizonte.
Saudações querida “Grelaine”
tenho saudades sou seu amigo e nunca te considerei puta, como tantas pessoas
tentaram me convencer. Quando estiver por aqui apareça em casa.
Pedro
Guimarães
Belo texto Pedro. Realmente é uma personagem que suscita muitas estórias, ainda mais por essa intimidade tão sua e tão dela na vida que os separam e permite o reencontro em um momento de escrita.
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