quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Nativo-idade

Nos encontramos naquele vagão de metrô era natal.
Ela tinha uma euforia de quem bebia a uma ou duas noites, e sem dormir sem sonhar.
Sua alegria era um torpor de quem convive com tantos dessabores.

Falava-me sobre a prisão da Nalva e ria, um riso alto forte. Coisa que incomodava as pessoas ao nosso redor. Sentia-se justiçada vingada por um Deus assim justiceiro (tipo juiz Sérgio Moro de Curitiba) que foi capaz de castigar aquela que tantas vezes se recusou a lhe servir o último trago de bebida. Que tanto lhe esculhambou, muitas vezes lhe expulsando donde convive com tantos outros, fugindo da só convivência de si mesma. 
As vezes compartilhar a companhia só com você pode ser mais aterrador que a própria de ideia do infortúnio mais sofrido.
 Sei o que isso significa!
Mesmo tripudiando a má sorte da Nalva. Ria da sua própria tristeza de conviver com tantos e continuar só como se isso fosse uma especie de montanha intransponível.
As pessoas ao redor se incomodavam mais não falavam nada, preocupavam-se com seus presentes, ceias, percursos,pouca grana, abraços culpas e desculpas natalinas. Por que essas épocas expõem tanto nossas mais intimas tristezas?
 De onde vem o castigo da vida?
Ela então descontrolada contou que trocara a luxuosa casa da irmã na estrada do horto pra acampar nesse natal com sua namorada numa esquecida e abandonada estação de trem no começo da serra do mar.
Cada vez mais alto queixava-se de maus tratos reservados a sua pessoa por outras que de tão arrogantes, esqueceram de tempos inglórios que passaram em hospícios e casas de repouso onde ao invés de se descansar a alma só se acumulam lembranças e ressentimentos. Que nessas épocas de festas precisam ser expurgados aos goles do álcool, com o cheiro da droga e o esfuziante delírio de se viver pra sempre sobre o efeito de alguma substância que faça da vida uma alegria tão grandiosa que não se tenha mais vontade de se libertar dela. Tornando tudo a nossa volta um balsamo de colorido alucinógeno.  
Pedro Guimarães.

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